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Artigo de opinião: Projetar o desenvolvimento econômico demanda uma análise mais qualitativa da realidade


Por: Artigo de opinião
Data: 02/09/2024
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Em Nova Esperança e outros cantos do Brasil, número global de abertura de empresas anima gestores públicos, mas é preciso olhar para quais tipos de negócios são abertos - e como isso nos afeta -.

Por Victor Ramalho, especial para o JN.

Há alguns dias vi um gestor público de nossa cidade afirmar, em uma publicação nas redes sociais, que Nova Esperança vive o seu momento de maior crescimento econômico em três décadas. Se escolhermos bem os números que queremos exibir, é uma afirmação verdadeira.

Em 2023, a cidade foi responsável por 1.672 contratações com carteira assinada, conforme o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Na abertura de empresas, foram 498 novas, com um tempo recorde de apenas 18h para a abertura de um novo CNPJ. Dados que animariam qualquer um e que, com toda certeza, poderiam ser explorados em uma campanha eleitoral. Mas será que é tão simples?

Como disse, tudo depende dos dados que queremos tornar públicos. Um sujeito mais pessimista poderia dizer que, para as 1.672 contratações, houve 1.489 demissões em 2023, segundo o mesmo Caged, ou que para as 498 novas empresas, outras 278 foram fechadas, de acordo com a Junta Comercial do Paraná. No entanto, esta não deve ser a discussão principal.

Penso que projetar o desenvolvimento econômico de Nova Esperança, debate essencial neste momento de eleições, demanda uma análise menos quantitativa e mais qualitativa dos dados. Tomei a liberdade de levantar alguns números para defender o meu ponto de vista - de que nossa economia não está crescendo como deveria ou como alguns dizem -.

Atualmente, Nova Esperança tem 3.347 empresas com registro ativo, conforme o Ministério do Trabalho e Emprego do Governo Federal. Destas, 2.995 estão classificadas como microempresas, cujo o faturamento anual está limitado a R$ 360 mil. Quando olhamos para a abertura de novos negócios, os dados também nos dão uma dimensão mais ‘pé no chão’ da realidade.

Segundo a Junta Comercial do Paraná, 498 novas empresas foram abertas na cidade no último ano, enquanto 278 foram fechadas. Dos novos CNPJs, 384 foram de microempreendedores individuais, limitados a um faturamento anual de R$ 81 mil.

Significa dizer que os novos negócios que surgem em Nova Esperança são ligados a produtos/serviços de baixo valor agregado. Para ilustrar isso, vemos o setor de comércio varejista liderando os negócios ativos, com 189 CNPJs nesta classificação.

Importante frisar que este texto não se trata de uma crítica a este tipo de negócio. Qualquer meio de geração de emprego e renda é considerado extremamente digno e necessário. No entanto, um futuro prefeito(a) precisa ter a noção de que o crescimento econômico passa pela capacidade de diversificação dos negócios, bem como a cooptação de empresas com produção de alto valor, a grande maioria delas ligadas ao setor industrial. Estes negócios, em razão de sua natureza de alto faturamento, oferecem além de maior arrecadação de tributos, uma maior oportunidade de geração de novos postos de trabalho.

Neste segmento, a cidade estagnou, olhando novamente aos dados. No segmento industrial, foram 37 baixas de registros, segundo a Junta Comercial.

Para não deixar a discussão teórica de lado, podemos fazer uma breve reflexão sobre o auto número de Microempreendedores Individuais (MEIs). A chamada ‘precarização do trabalho’ já é discutida, há décadas, por sociólogos do mundo todo. Destaco aqui dois: David Harvey, com seus estudos acerca da flexibilização do trabalho relacionada com a perda de direitos em prol do lucro; e Jürgen Habermas, que discute os efeitos do chamado ‘capitalismo tardio’ na esfera pública. As duas vertentes são facilmente perceptíveis em nível de Brasil.

Há 7 anos, vivenciamos uma reforma trabalhista que oportunizou o ‘fim’ da carteira de trabalho e o nascimento de novas modalidades de vínculo profissional. O crescimento absurdo dos chamados ‘MEIs’ não só em Nova Esperança, mas em todo o Brasil, é reflexo disso: a perda de direitos vendida como ‘liberdade’. Por isso, torna-se fundamental olhar para esses dados, quando eles surgem, com bastante cuidado.

Para encerrar minha reflexão, sugiro algumas medidas que, na humilde opinião deste colunista, poderiam ser tomadas por um futuro gestor de nosso município. Primeiro, é importante reconhecer e respeitar os motivos que levam nossos jovens a buscar moradia e emprego em outras cidades. Como citado neste artigo, nossa economia é centrada em produtos/serviços de baixo valor agregado, o que reflete em salários que, por vezes, não atendem as expectativas de uma juventude que busca prosperar através do estudo e da qualificação profissional.

O caminho, em minha opinião, é oferecer suporte para estas pessoas, que pode se materializar em medidas simples, como custear passagens de ônibus para quem busca emprego ou criar um programa de auxílio transporte para quem estuda em outras cidades. Novamente, recorro ao exemplo de Maringá, onde estudantes e universitários têm direito ao deslocamento gratuito no transporte coletivo municipal.

Valorizando o jovem que hoje busca construir sua autonomia financeira pode ser um caminho para, no futuro, atrair de volta à cidade estas mesmas pessoas, com mão de obra qualificada e encorajadas e constituir aqui seus futuros negócios.

Sobre o autor:

Victor Ramalho, 26, é nascido e criado em Nova Esperança-PR. Jornalista formado pela Faculdade Maringá, Especialista em Jornalismo Político pela Unyleya, é atualmente mestrando em Jornalismo pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Atuando no Jornalismo desde 2019 e com passagens por CBN Maringá e RIC/RecordTV Maringá, é atualmente Repórter e Setorista de Política do Maringá Post. Colabora com o Jornal Noroeste de maneira voluntária.

**A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal.

 

 


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