A liberdade de pensamento e o direito ao contraditório
A sociedade brasileira passa por um momento complexo, onde a luta pelos direitos civis e igualdades como nunca antes tem se acirrado. É atribuída ao filósofo francês Voltaire (1694-1778) a seguinte afirmação: "posso não concordar com uma palavra do que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-la". O absolutismo e a dogmática de ideias em detrimento aos pensamentos alheios definitivamente existem em uma sociedade tão plural quanto a nossa.
A ascensão da direita à presidência da república brasileira trouxe de volta o conservadorismo (nos costumes) e o liberalismo (na economia), causando um choque cultural nunca antes visto até a abertura política, sobretudo o fim de o governo militar nos idos de 1985. Lá se vão 34 anos e a sociedade mudou muito de lá para cá.
A liberdade de expressão do pensamento precisa e deve ser respeitada, bilateralmente. O repúdio e a exacerbação quando o contraditório é apresentado remete ao pensamento de que os indivíduos não são robotizados. Seres pensantes que são, pensam, agem e ficam indignados. Isso é ótimo. Alguém já afirmou que “toda unanimidade é burra”. E talvez seja mesmo!
Cada pessoa é única no mundo. Que se vistam de rosas, azuis, lilás, amarelo ou vermelho. Que sejam felizes com o que quiserem ser, pois para tal exercem o livre arbítrio. A humanidade se compõe de príncipes, princesas, reis, rainhas, carrascos, e até, pasmem, bobos da corte. Cada qual com seu papel e funções bem distintas na corte. Nesta grande e diversificada corte chamada humanidade!
Acolher as diversas ideias e linhas de pensamento, independentemente de se concordar ou não com o conteúdo apresentado para reflexão e debate é missão que passa por este veículo de comunicação, onde colunistas com orientações ideológicas de esquerda ou direita se apresentam no palco dos debates; no campo das ideias, onde não deve haver espaço para desavenças ou insultos. A neutralidade de pensamento emburrece os seres e nada contribui para a construção do processo de conhecimento; na escalada do saber!
Fomentamos o desafio de pensar, se indignar e, sobretudo refletir.
Defenda suas ideias. O bom debate faz com que elas sejam refinadas, como ouro no fogo. A vigilância na observância dos direitos passa sob este viés. O desenvolvimento do pensamento, com liberdade precisa ocorrer bilateralmente pois assim se alcança a maturidade de pensar e o devido respeito, decorrente da apuração dos debates, a sociedade se depura. Ah, e como precisamos que isto ocorra. Que a intolerância com o contraditório seja minimizada, ou quiçá extirpada, algo utópico demais.
Quando uma ideia é concebida e apresentada ao público, quem a oferece deve fundamentá-la para, uma vez colocada à apreciação dos mais críticos, se permita ser questionada. Somos ou não uma sociedade tolerante? Nos pequenos atos e fatos esta condição se revela ante o contraditório. E quão bons são aqueles por quem somos desafiados a pensar, rever conceitos e crescer intelectualmente, para o que realmente somos ou pelo menos deveríamos ser: amáveis, ponderados e respeitosos.
Uma relação unilateral vem se construindo em forma de verdade absoluta, onde determinados temas não podem ser suscitados, porém outros são massacrados; reflexos de uma grande mazela social. Certas comunidades querem apenas respeito para viver dentro dos princípios e valores por elas cridos e que assim seja.
A doutrinação se apropria da dogmática para se estabelecer. Isto não é bom, sob qualquer ótica. A consistência e fundamentação de argumentos alicerçados nos mais diversos vieses contribuem para a reflexão e avanços difusos. A opção ao estilo de vida de cada um dos entes sociais diz respeito tão somente a si próprio, sendo restrita a esfera da liberdade de ser, pois como diz o grande líder pacifista indiano, Mahatma Gandhi (1869-1948): “a prisão não são as grades, e a liberdade não é a rua; existem homens presos na rua e livres na prisão. É uma questão de consciência”.