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Durante décadas, profetas da parte de Deus haviam alertado que a impiedade de Judá traria consequências trágicas. Os profetas também anunciaram que o instrumento de disciplina, da parte do Senhor, seria a impiedosa Babilônia. O povo de Deus desprezou a santa lei e agora seria espalhado entre os gentios (Lv 26; Dt 27-30).

Isaías profetizou a queda de Jerusalém um século antes (Is 13;21 e 39). Habacuque ficou alarmado diante do terrível avanço babilônio rumo a Jerusalém, cumprindo os desígnios divinos (Hc 3) e Jeremias, por sua vez, viveu para ver o cumprimento dessas profecias, que aliás, ele mesmo também havia anunciado (Jr 20;25;27).  O povo de Deus quis transformar Jerusalém numa Babilônia, então Deus os entregou aos seus próprios desejos, mandando-os direto ao coração da Babilônia, sem, no entanto, remover deles sua misericórdia e, assim levantando um remanescente fiel, naquela terra perversa para que o seu Nome fosse exaltado. 

E assim aconteceu. Em 605 a.C., depois de derrotar os egípcios em Carquemis sobre o Eufrates, bem ao nordeste de Judá, a Babilônia, sob o reinado de Nabucodonosor, avançou em direção a Jerusalém para sitiá-la e subjugá-la. Este dia foi extremamente significativo para Daniel e seus amigos. A vida deles e de muitos outros judeus mudaria dramaticamente e para sempre. 

Como parte da política estratégica de Nabucodonosor, jovens dos países conquistados eram levados para a Babilônia para sofrerem uma verdadeira engenharia social, cultural e religiosa, com o fim de fazê-los servir na administração da Babilônia. Foi assim que Daniel, Hananias, Misael e Azarias, ainda adolescentes, foram levados cativos à Babilônia, debaixo de muita humilhação e sofrimento. 

Daniel inicia seu livro nos contando esse episódio fatídico da sua deportação, mas sem muitos detalhes. No entanto, é interessante que Daniel escolhe começar diretamente com o avanço de Nabucodonosor, destacando uma informação que salta aos meus olhos e impacta profundamente meu coração: “O Senhor lhe entregou nas mãos a Jeoaquim, rei de Judá, e alguns utensílios da Casa de Deus;...”. (Dn 1.2). 

Como assim? Debaixo de tanta humilhação, submetido à escravidão, levado para longe de seu lar, de familiares, de sua terra amada e vendo os tesouros da Casa do seu Deus saqueados, como pode Daniel continuar crendo em Deus, e mais ainda, que esse Deus está no controle dos acontecimentos? Não era a nossa nação a mesma que havia sido libertada poderosamente do Egito para uma terra prometida? Não era também a nação do grande rei Davi? Não era essa a nação dos Patriarcas a quem foi prometido um descendente de Davi, um Messias, que reinaria eternamente, um reinado sem precedentes? Não estava agora ameaçada a linhagem de Davi? Será que o Deus de Judá e Israel foi humilhado por Marduque, deus da Babilônia? Se Deus realmente existe, por que seu templo foi saqueado? Por que Deus não fez nada? Será que se importa mesmo? Será que está impotente , ou será que está morto? Talvez tudo não passava de uma fantasia, um delírio? Talvez muitos esperassem esses questionamentos de Daniel. 

Surpreendentemente, a primeira coisa que Daniel trata de afirmar em seu livro é que Deus está dirigindo a história. Todos os capítulos de Daniel reproduzem esse ensinamento. Deus é soberano e a história está em suas mãos, mesmo que muitas vezes não pareça para nós, ou que as circunstâncias pareçam ensinar outra coisa. Daniel interpreta a história, e faz isso de uma maneira muito provocativa à mente pós-moderna. Ele usa a lente da providência de Deus para interpretar a realidade da vida. Assim, ele entende que a queda de Jerusalém foi uma vitória do Senhor, que mais tarde também levantou os persas para conquistar a Babilônia e permitir o retorno dos judeus a sua terra, para reconstruir o Templo. Mas não parou por aí. Na plenitude dos tempos, enviou o Seu Messias, o Filho de Deus, para assumir o trono de Davi (Dn 2.44,45; Gl 4.4; At 2.22-36). Como disse A.T. Pierson “A história humana é a história de Deus”. Nosso Deus é tão sábio e poderoso que usa as escolhas dos homens e mulheres deste mundo para cumprir seus santos, justos e soberanos propósitos na história. 

Esse entendimento foi muito importante para Daniel e seus amigos. Crer que Deus está sempre no controle fez toda diferença. Assim, tiveram coragem para lutar pela fidelidade a Deus e mesmo na Babilônia, com notáveis cargos públicos, foram sábios e fiéis. Aqueles jovens decidiram não se contaminar com a idolatria, paganismo e não cederam à inversão de valores, ao secularismo e relativismo da Babilônia. Isso não foi fácil! Essa integridade e dedicação ao soberano Deus se manifestou em contextos de censuras, acusações ferozes, perseguição e até ameaças morte. Eles enfrentaram dura oposição, mas decidiram não se dobrar diante de decretos reais que comprometiam suas consciências, mesmo diante da iminente morte na fornalha.  

Muitos cristãos precisam se voltar aos ensinamentos aprendidos por Daniel e seus amigos. Essas verdades nos confortam em momentos de provações, perseguições por causa de nossa fé e nos animam à fidelidade a Deus. Não são poucos os cristãos que moram em lugares de extrema perseguição por causa da fé que professam. Há mártires em nosso tempo. 

Em outras realidades, como no nosso país, os problemas se apresentam de maneira diferente. As fortes ondas do pluralismo, do relativismo e do secularismo na sociedade ocidental contemporânea jogam cada vez mais para escanteio qualquer expressão de fé em Deus e em sua Lei, fazendo um esforço hercúleo para nos confinar somente à esfera particular. Nos nossos dias, está se tornando totalmente politicamente incorreto mencionar Deus em público, ou confessar crença em verdade absoluta e objetiva, ou, ainda, afirmar a singularidade de Jesus Cristo como Filho de Deus, Salvador e Senhor. A sociedade ainda tem certa tolerância à prática da fé cristã nas casas e cultos nas igrejas, mas despreza o testemunho público da fé. Para muitos relativistas, o testemunho público da fé cheira à ameaça à estabilidade social, ao avanço da ciência e até à liberdade humana.  

A história de Daniel e seus amigos é um toque sonoro para que nossa geração seja corajosa. É uma mensagem celeste para que não fiquemos apavorados, ao ponto de não termos mais coragem de confessar nossa fé publicamente. Também é um chamado a estarmos sempre prontos a apresentar a razão da esperança que há em nós, todavia, com amor, mansidão, temor e boa consciência, no serviço a Deus e ao próximo com sabedoria e humildade, mesmo na Babilônia. Lembre-se: Não importam quais sejam nossas circunstancias, podemos sempre dizer confiantes: "Aleluia! Pois reina o Senhor, nosso Deus, o Todo-Poderoso" (Ap 19:6).

Azael Araújo

Azael Araújo


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