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A banalidade do mal e o nosso quotidiano


Por: Rogério Luís da Rocha Seixas
Data: 10/04/2023
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Quando escrevo este texto, para mais uma exposição de ideias, ocorreu em nossos país um massacre de crianças em uma escola em Blumenau, que nos obriga a refletir sobre um tema presente ao longo de nossa existência humana: a prática do mal. As postulações, reflexões e visões, são extremamente variadas. As dimensões religiosa, moral, filosófica e psicológica, trabalham este tema intensamente. Mas aqui proponho, desenvolver a reflexão e discussão referente a um tema mais complexo e atual: a Banalidade do Mal.

Objetivando a construção e desenvolvimento de nossa discussão, tratarei do conceito de “Banalidade do Mal”, concebido pela filósofa judia-alemã Hannah Arendt. Para esta pensadora, a banalidade do mal não se refere exatamente ao desejo ou a premeditação do exercício do mal ou faz referência a essência de alguém mal por natureza. Arendt, não concorda com a imagem tradicional ou com a personificação de um sujeito maleficamente anormal, diabólico ou possuidor de uma essência naturalmente maléfica. Tipo de imagem ou personalidade que já se construiu, em torno do assassino das crianças em Blumenau. Para Arendt, a banalidade do mal é própria de uma sociedade massificada e massificadora, produtora de indivíduos desprovidos de senso moral, ético e crítico. São então incapazes de sentir empatia ou respeitar a vida e a alteridade. São assim indivíduos, também incapazes de refletir e assumir a iniciativa própria de seus atos, negando-se inclusive a responder pelas suas consequências.  

Deste modo, segundo Arendt, nesta condição de mal banal, há um afastamento referente à responsabilidade sobre nossas atitudes e pensamentos. Consequentemente, a dimensão ética passa a ser completamente comprometida, acarretando o corrompimento do ser ético para com a sociedade, causada por uma percepção de mundo limitada, ensimesmada, indiferente e medíocre. Instala-se assim, toda a condição de uma prática de banalidade do mal, no qual muitas vezes, nem a violência e nem a agressividade promovida por esta banalização, causam algum tipo de impacto crítico e valorativo na ordem social-moral. Neste aspecto, o mal banal passa inclusive a ser considerado enquanto trivial e rotineiro, onde indivíduos socialmente qualificados como meramente comuns e medíocres o praticam, colocando-se inclusive como detentores de motivos, causas ou deveres que justifiquem seu agir destrutivo, violento e banalizando eticamente o mal. Situação que de certa forma, já se faz bem presente em nosso quotidiano social.  

  A questão é que esta banalização do mal, pode assim, torna-se algo cada vez mais e mais comum, acarretando numa forma de naturalização de seu exercício, não nos afetando mais e ocasionando uma total indiferença moral e ética. Esperemos que não seja o caso em nossa sociedade e que reflitamos, discutamos e ajamos corretamente, após este odioso massacre de vidas tão vulneráveis e inocentes, acontecido em Blumenau e que possamos estender esta reflexão e discussão para outros casos antes ocorridos e que acontecem em nosso quotidiano.

 

 

Rogério Luís da Rocha Seixas

Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com


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