A generic square placeholder image with rounded corners in a figure.


TRABALHAR PARA GANHAR A VIDA? OU GANHAR A VIDA TRABALHANDO?


Por: Simony Ornellas Thomazini
Data: 24/05/2019
  • Compartilhar:

Freud já havia enfatizado no texto "Introdução ao Narcisismo" (1914) que precisamos amar para não adoecer. Ele também já havia dito que a saúde mental dos indivíduos, bem como da sociedade, está na capacidade de amar e trabalhar. 

O trabalho segundo Freud, nos garante outros destinos pulsionais como, a criação, e, sobretudo, a inserção social do sujeito. É o trabalho também que nos dá um lugar no tecido social, pois faz de nós agentes capazes de modificar a sociedade na qual estamos inseridos. 

Dito isso, Freud em seu texto “O mal estar na civilização” (1929-1930) diz que: “Nenhuma outra técnica para a conduta da vida prende o indivíduo tão firmemente à realidade quanto a ênfase concedida ao trabalho, pois este, pelo menos, fornece-lhe um lugar seguro numa parte da realidade, na comunidade humana.”

Mas, e quando esse trabalho nos traz uma vida mecanicizada transportando-nos para um caos diário em que não se vive, mas apenas sobrevive?

É sobre essa questão que Albert Camus, filósofo e escritor, em seu livro: “O mito de Sísifo” nos traz uma importante reflexão que quero deixar aqui hoje:

“Ocorre que os cenários desmoronam. Levantar-se, bonde, quatro horas de escritório ou fábrica, refeição, bonde, quatro horas de trabalho, refeição, sono, e segunda, terça, quarta, quinta, sexta e sábado no mesmo ritmo, essa estrada se sucede facilmente a maior parte do tempo. Um dia apenas o ‘por quê’ desponta e tudo começa com esse cansaço tingido de espanto. “Começa”, isso é importante. O cansaço está no final dos atos de uma vida mecânica, mas inaugura ao mesmo tempo o movimento da consciência. Ele a desperta e desafia a continuação. A continuação é o retorno inconsciente à mesma trama ou o despertar definitivo. No extremo do despertar vem, com o tempo, a consequência: suicídio ou restabelecimento. Em si, o cansaço tem alguma coisa de animador. Aqui, eu tenho de concluir que ele é bom. Pois tudo começa com a consciência e nada sem ela tem valor. Essas observações não tem nada de original. Mas são evidentes: por ora isso é suficiente para a oportunidade de um reconhecimento sumário das origens do absurdo, a simples “preocupação” está na origem de tudo.”

 Aos poucos vamos deixando de viver e passamos a sobreviver em função do e para o trabalho. Afinal, trabalhamos para ganhar a vida ou ganhamos a vida trabalhando? Por que precisamos desperdiçar a vida que ganhamos, trabalhando para ganhar a vida? Como nos questiona Miguelito na tirinha acima. São questões que nos surgem em algum ponto da vida.

 Mas, em meio a tudo isso, o cansaço é bom, tal como nos apontou Camus no trecho citado acima. O cansaço evidencia que algo não vai bem e é preciso estar atento aos sinais. Numa vida mecanizada a fadiga pode ser o ponto de partida para o movimento da consciência que é onde tudo começa.

Em meio ao caos diário surge um ‘por quê’ e nesse implicar-se pode ser que ocorra uma mudança de paradigmas e quiçá, de vida. A partir disso, desse movimento inaugural da consciência, cabe somente a nós criar novas saídas para estes porquês que nos apresentam.

 

Simony Ornellas Thomazini é Pedagoga com especialização em Psicopedagogia Institucional e Clínica; Psicóloga. Atua como psicóloga no CRAS - Centro de Referência da Assistência Social de Uniflor, e psicanalista na Fênix Desenvolvimento Humano.

Simony Ornellas Thomazini


Anuncie com Jornal Noroeste
A caption for the above image.


Veja Também


smartphone

Acesse o melhor conteúdo jornalístico da região através do seu dispositivos, tablets, celulares e televisores.