A generic square placeholder image with rounded corners in a figure.


Síndrome do Pânico: sentimento de desamparo


Por: Simony Ornellas Thomazini
Data: 09/07/2019
  • Compartilhar:

Conhecida como “Síndrome do Pânico” ou “Transtorno do Pânico”, é uma categoria classificada pela psiquiatria contemporânea no ‘Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais’, assim como também está no ‘Código Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde’. 

Não será minha pretensão aqui discorrer sobre a classificação de sintomas que a psiquiatria descreve, mas fazer uma problematização entre os dois campos, ou seja, psiquiatria e psicanálise, e suas contribuições diante do pânico.

Sob a perspectiva psicanalítica, “o pânico corresponde a um afeto extremo de angústia despertado pelo confronto súbito do sujeito com seu desamparo”, explica a psicanalista Lucianne Sant’Anna de Menezes, professora da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), e autora de Pânico: efeito do desamparo na contemporaneidade, um estudo psicanalítico.

Mas, o que quer dizer esse desamparo? Explico:

Todos nós somos seres desamparados. Não possuímos garantia alguma da vida. Podemos morrer a qualquer momento, porém, seguimos vivendo em nosso cotidiano incorporando os riscos desse jogo de viver.

Porém, para certas pessoas, esse desamparo é insuperável, e está envolto a um ideal de proteção onipotente, garantindo ao sujeito uma estabilidade diante do mundo, bem como de seu mundo psíquico. Esse ideal está organizado longe das incertezas, da falta de garantias e de indefinições, isto é, longe da angústia!

É inegável a contribuição dos medicamentos trazendo benefícios na vida destes pacientes. Os remédios aliviam aqueles sentimentos terríficos, desesperadores, e, por vezes, paralisantes, como, por exemplo, o medo de sair de casa para trabalhar. No entanto, é importante ressaltar que o paciente não deposite apenas no remédio a reorganização de sua vida, passando a questionar-se ao que ocorre com ele.

No que se refere à manifestação do pânico na atualidade, podemos dizer que correspondem a certas formas de sofrimento psíquico diante da manifestação subjetiva de nossa sociedade atual. 

Há alguns ideais predominantes na contemporaneidade, tais como: a exaltação sem medida de si mesmo, do eu, e da existência como imagem estética. Há também a valorização do “exterior” em detrimento do “interior”, pois, o que interessa é o sucesso a qualquer preço, a imediatez das coisas.

A consequência disso é o apagamento do sujeito reduzindo-o a mera dimensão de sua imagem. Assim, o pânico expressa o fracasso em atender esses ideais e exigências que a sociedade atual impõe ganhando cada vez mais espaço na cena social. Podemos dizer que hoje existe um processo de produção social do pânico.

Como é o tratamento?

Levar o paciente a questionar-se acerca de seu sofrimento, a querer falar, procurar dar sentido, a partir de sua história, ao que parece não ter sentido: os ataques súbitos de pânico. 

A psicanálise pode ajudar a criar junto ao paciente condições para que ele possa colocar-se naquilo que sofre, interrogando-se sobre o seu desamparo. Como já foi dito anteriormente, a condição de desamparo encontra-se envolta a um ideal protetor onipotente, que garante ao sujeito a estabilidade de um mundo organizado longe das incertezas e da falta de garantias da vida.

É comum em quem sofre de pânico, possuir um apego dependente e concreto a alguém ou a alguma situação que lhe garanta estabilidade. Por exemplo, necessita de uma pessoa que o acompanhe aos lugares que precisa ir. Porém, ele tem a consciência, de que a presença dessa pessoa não mudará em nada, mas necessita desta presença para que se cumpra o papel de um objeto fiador de sua existência (ideal protetor) garantindo a estabilidade de seu mundo.

Essa ação se dá como uma forma de compensação a sua incapacidade de lidar com a falta de garantias, e ilusoriamente, o livra do confronto com o desamparo. Podemos dizer que o apego ao remédio tem significado semelhante.

Dito isso, só quem pode escutar e dar sentido à essa angústia, é o sujeito que a sente, e esta é, inclusive, sua maior dificuldade: decidir saber mais sobre o seu sofrimento. No entanto, não saber nomeá-la, simbolizá-la, constitui-se num motivo gerador de mais angústia. Daí, o pânico. 

Como escutar um grito de pânico “sem sentido” se não com a ajuda das palavras? 

 

Simony Ornellas Thomazini é Pedagoga com especialização em Psicopedagogia Institucional e Clínica; Psicóloga. Atua como psicóloga no CRAS - Centro de Referência da Assistência Social de Uniflor, e psicanalista na Fênix Desenvolvimento Humano.

Simony Ornellas Thomazini


Anuncie com Jornal Noroeste
A caption for the above image.


Veja Também


smartphone

Acesse o melhor conteúdo jornalístico da região através do seu dispositivos, tablets, celulares e televisores.