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Precisamos falar sobre o luto


Por: Simony Ornellas Thomazini
Data: 25/06/2019
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Na vida adulta passamos por inúmeros lutos. O luto não é apenas sinônimo da morte concreta, mas também pode ser uma resposta aos ciclos que se encerram em nossa vida, ao que chamamos de lutos simbólicos. 

Pode ser a perda de um emprego, um divórcio, o rompimento de uma amizade, um namoro, um novo papel social, a passagem da infância à adolescência, dentre outras situações em que há a separação e o término de alguma coisa, assim como também pode ser a morte real de um ente querido.

O que é esperado de uma pessoa que está num processo de luto é a tristeza. Quem está de luto, encontra-se inevitavelmente triste. São perdas que precisarão ser elaboradas. E é necessário tempo para que as dores possam ser expressas.

Porém, o que vemos frequentemente em nossa sociedade é uma deformidade da tristeza, como se fosse um defeito moral. É quase que uma obrigação negar que estamos tristes. Passar por um divórcio, por exemplo, “feliz da vida” é sinônimo de superação, resiliência. Será?

Precisamos vivenciar os lutos. São etapas fundamentais e necessárias para nossa saúde mental. Dopar-se de remédios para silenciar a dor e a tristeza também é outra alternativa para algumas pessoas, mas só faz com que aquilo que precisa ser vivenciado acumule-se dentro da gente.

Sobre isso, Maria Rita Kehl diz: “Ao patologizar a tristeza, perde-se um importante saber sobre a dor de viver. Aos que sofreram o abalo de uma morte importante, de uma doença, de um acidente grave, a medicalização da tristeza ou do luto rouba ao sujeito o tempo necessário para superar o abalo e construir novas referências, e até mesmo outras normas de vida, mais compatíveis com a perda ou com a eventual incapacitação”.

É indispensável dizer adeus a um ciclo que se encerra para poder dar lugar a algo novo. É necessário também despedir-se de quem já se foi. Cada um à sua maneira e ao seu tempo deverá vivenciar e construir saberes sobre suas perdas. Só assim para que a vida possa continuar seu fluxo.

Sobre um dos lutos, o luto amoroso, que é tão penoso quanto a morte real da pessoa amada, Roland Barthes em seu livro: “Fragmentos do discurso amoroso” nos traz uma importante contribuição: “Por todo o tempo que durar esse estranho luto, deverei carregar o peso de duas infelicidades contrárias entre si: sofrer porque o outro está presente (e continua, a contragosto, a me fazer mal) e afligir-me pelo fato de ele estar morto (aquele que eu amava)”. 

Como podemos ver, os lutos são inevitáveis em nossas vidas. Em algum momento, nos depararemos com eles, e se não permitirmos vivenciá-los, estaremos presos a sombras e fantasmas que não nos deixarão seguir em frente. Já dizia a escritora Virgínia Woolf: “É muito mais difícil matar um fantasma do que matar uma realidade”.

Viver é lidar com perdas. Negá-las é também uma forma de negar a vida.

No filme “As aventuras de Pi” há um trecho que contribui muito em minha discussão, finalizando o texto de hoje:

 “Eu suponho, que no final, a vida é um ato de desapego. Mas o que dói mais, é não tirar um tempo para se despedir.”

 

Simony Ornellas Thomazini é Pedagoga com especialização em Psicopedagogia Institucional e Clínica; Psicóloga. Atua como psicóloga no CRAS - Centro de Referência da Assistência Social de Uniflor, e psicanalista na Fênix Desenvolvimento Humano.

Simony Ornellas Thomazini


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