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E O PAI? A FUNÇÃO PATERNA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA


Por: Simony Ornellas Thomazini
Data: 04/06/2019
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Nos dias atuais nos deparamos com novas mudanças ocorridas em nossa sociedade no âmbito familiar. Sobre essa família atual, Lacan (1987) nos diz que há um declínio da imagem social do pai, isto é, para a psicanálise, ocorre atualmente uma fragilização da função paterna.

O que é a função paterna?

Segundo a psicanálise, entende-se por função paterna o processo em que o pai, ou qualquer outro que possa assumir este papel, é o detentor da Lei e interdita a mãe em sua relação com o filho, ou seja, a mãe precisa descolar-se da criança e desejar outras coisas para além dela. Em outras palavras: é necessário que ocorra um terceiro na relação mãe e bebê e o amor da mãe não fique só voltado à criança. Se tudo ocorrer bem nesse processo, teremos a efetivação da função paterna.

Diante disto, os sintomas contemporâneos são reflexos das formas de famílias que possuem a fragilidade da figura paterna. 

De acordo com Calligaris (1993) existe algo a se indagar perante a função paterna e porque se fala tanto nesse declínio. O autor nos diz que não significa que falte um pai, mas ele aponta para um pedido enfático: que haja mais pai! 

Vamos entender melhor o porquê disso.

Na sociedade pós-moderna em que vivemos nos deparamos com situações cada vez mais comuns em que os filhos ainda pequenos escolhem qual roupa irão vestir, qual canal de TV irão assistir, ou o que irão comer no almoço ou no jantar. Nessas situações que constituem para os pais muitas vezes, uma maneira de “agrado” para os seus filhos, eles estariam negando a responsabilidade que lhes cabe.

 Há uma evasão da função paterna?

Sendo assim, o que vemos hoje são decorrências devastadoras do declínio da autoridade estendidas também para a educação, por exemplo. Há sistemas educacionais em que o aluno deve aprender sozinho, nos quais a figura do professor se resume a um mero facilitador. O que se esconde por trás dessa proposta é o fato de que os adultos negam a responsabilidade que seria deles. 

Não é possível que uma criança internalize conteúdos e aprenda, sem antes obter a mediação do professor para tal ato.

Com isso, nega-se também a criança aquilo que é necessário a sua constituição, e se houver falhas nesta função do pai, teremos os infindáveis sintomas contemporâneos que vemos hoje. É necessário que haja primeiro a figura do Outro e esta seja presente, para que só depois o sujeito possa caminhar sozinho. 

 É preciso que haja a função do pai! Estes exemplos demonstram que na pós-modernidade as figuras que assumem este papel estão cada vez mais questionáveis. 

 Qual sociedade temos hoje? 

 A nossa sociedade está vivendo o prazer ilimitado, e, portanto, sem regras muitas vezes. Hoje existe muito um ideal pautado na ideia de que o sujeito pode conseguir tudo independente da situação e do preço que venha a pagar por isso. Há também as inúmeras propagandas que induzem a comprar cada vez mais para se obter uma felicidade interminável, uma vez em que a tendência de nossa sociedade atual é a aniquilação do sofrimento. 

“Seja feliz! Seja positivo! Se esforce e conseguirá o que quiser!” Estes são alguns exemplos dos imperativos categóricos que vemos e ouvimos hoje!

O que importa em nossa sociedade contemporânea é que nada é impossível, isto é, para se atingir o ideal de felicidade e sentir-se completo é preciso ter isso e aquilo. É isso que dificulta a função do limite, do corte no sujeito, impedindo o trabalho de luto que é inevitável em nossa jornada. E esse limite é concedido através da função do pai.

Estamos vivendo numa sociedade que não sabe perder, e não sabendo atravessar por estes momentos em que inevitavelmente nos deparamos em algum momento da vida, haverá os efeitos dessa defasagem com aquilo que a psicanálise chama de fenômenos de borda comuns do nosso tempo. 

Temos como exemplo a toxicomania, algumas anorexias e bulimias, que são tentativas do sujeito de sair da inibição, demonstrando as falhas na incapacidade em elaborar os lutos. 

A Lei do pai

Tudo isso que estou dizendo a vocês é para levar a compreensão de que é preciso primeiramente a inscrição da função paterna na vida do sujeito, para em seguida serem internalizadas e respeitadas as leis sociais importantes ao convívio em nossa sociedade.

É preciso haver espaço para a lei do pai, e a mãe também precisa permitir que este efeito seja transmitido ao filho. Se ela se fizer onipotente e detentora de todo o saber sobre a criança, não existirá a inscrição dessa Lei primordial, e posteriormente, não haverá as leis sociais ao longo da vida desse sujeito.  

Seguindo esta reflexão, caberá aos pais assumir a responsabilidade que lhes é própria, isto é, transmissores da Lei ao filho. Assim, a criança internalizará o seu lugar diante daquilo que lhe foi apresentado, podendo torna-se adultos que irão submeter-se as leis sociais, uma vez em que nela foi inscrita a primeira Lei, ou seja, a Lei do pai. 

 

Simony Ornellas Thomazini é Pedagoga com especialização em Psicopedagogia Institucional e Clínica; Psicóloga. Atua como psicóloga no CRAS - Centro de Referência da Assistência Social de Uniflor, e psicanalista na Fênix Desenvolvimento Humano.

Simony Ornellas Thomazini


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