Com Paraná em risco com a Dengue, Ortigueira vive realidade completamente diferente
Não bastasse a gravidade da pandemia da Covid-19, os dois últimos anos foram sofríveis para os paranaenses em relação à Dengue. Somados os ciclos epidemiológicos 2019/2020 e 2020/2021, o estado contabilizou 209 mortes e 453.947 notificações da doença. O atual período epidemiológico, iniciado em agosto do ano passado, indica mais uma vez a gravidade da situação. O boletim do dia 2 de março aponta haver notificações em 331 municípios paranaenses, num total de 22.682 casos suspeitos, com 1.114 confirmações, sendo 35 casos severos. As maiores taxas de incidência estão em Londrina, Foz do Iguaçu e Umuarama, mas outras regiões demonstram risco. Há, no entanto, um município que vive uma situação completamente adversa: Ortigueira, que viu a doença desaparecer.
A razão é um trabalho continuado muito bem-sucedido com uma biotecnologia totalmente sustentável. O Projeto Controle Natural de Vetores desenvolvido pela Forrest Brasil Tecnologia, com trabalho de cientistas brasileiros e israelenses, é realizado no local em parceria com a empresa Klabin, desde novembro de 2020. Em um ano, a redução foi de 90% no número de larvas viáveis encontradas em campo. Dados mais recentes mostram que a continuidade do trabalho fez com que, há dois meses, não fossem mais encontrados ovos e larvas na região. O número de pessoas doentes também caiu, de 120 para 5, quase 95%, sem nenhuma morte. Desde junho de 2021, não são registrados casos na cidade.
O método é baseado na tecnologia TIE – utilização do Inseto Estéril –, em que os mosquitos são soltos de forma massiva. Os machos estéreis se acasalam com as fêmeas selvagens, que deixam de procriar, provocando uma imediata redução na infestação do mosquito e disseminação de doenças como a Dengue, Chikungunya, Zika e Febre Amarela. O estudo é reconhecido pela comunidade científica internacional, sendo publicado no Journal of Infectious Diseases, revista médica revisada por pares, editada pela Oxford University Press em nome da Sociedade de Doenças Infecciosas da América, principal referência na área. A Secretaria de Saúde do Paraná também reconhece e aprova a tecnologia, com disponibilidade de ser aplicada em várias regiões do estado.
Durante a temporada das chuvas, o perigo da multiplicação dos Aedes aegypti é enorme. Isso porque, após cerca de 15h da postura, os ovos dos mosquitos conseguem resistir a longos períodos de baixa umidade, podendo ficar até 450 dias no seco. “Neste momento de mudanças na dinâmica populacional, utilizar tecnologia e inovação é fundamental, pois as medidas de controle utilizadas atualmente são, de certa forma, pouco efetivas e de alto custo, com baixo poder de prevenção”, explica a epidemiologista Daniele Queiroz, coordenadora da Forrest, consultora da OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde), com especialização na Universidade Johns Hopkins, nos EUA.