“Automedicação deve ser descartada na prevenção e no tratamento da Covid-19”, alerta médica
Especialista, a médica Dra. Mariana Mantovani Meira Santos fala sobre os riscos de tomar remédios não recomendados por conta própria e sem prescrição médica.
(Alex Fernandes França) “Tem pessoas fazendo uso da medicação continuamente mesmo sem ter o Covid, tomando esses remédios diariamente. Já tivemos pacientes que desenvolveram hemorragia digestiva gástrica. Também tem casos de pacientes que estão com problemas hepáticos por conta do excesso de medicamentos que sobrecarregou o fígado, necessitando por vezes de transplante”, alertou a médica Dra. Mariana Mantovani Meira Santos
Não é de hoje que a automedicação é contraindicada por médicos e especialistas da área de saúde. Em tempos de enfrentamento à pandemia de coronavírus, a Secretaria de Saúde de Nova Esperança tem recomendado à população que não busque medicamentos preventivos ou de tratamento da Covid-19 sem a prescrição de um profissional da área.
A médica Dra. Mariana Mantovani Meira Santos que está na linha de frente da Covid em Nova Esperança lembra que os tratamentos padronizados, aceitos pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) e aprovados pelo Ministério da Saúde, passam por critérios rigorosos de avaliação.
Ela explica que, como a Covid-19 é uma doença nova, estudos preliminares ainda estão sendo feitos, e qualquer medicamento usado no tratamento ou prevenção da doença só deverá ser utilizado quando aprovado. “Caso contrário, correremos mais risco do que obteremos benefícios”, adverte. Confira os principais trechos da entrevista, na qual a médica fala também sobre os mitos e verdades relacionados ao aumento da imunidade.
Jornal Noroeste: - Neste momento, o que as pessoas devem fazer, então?
Dra. Mariana: “as pessoas devem ter muita atenção à orientação médica. Devem ter também muito cuidado com as fake news – porque, talvez, a gente tenha mais notícias falsas do que notícias seguras circulando nas redes sociais. E a orientação médica é a nossa única orientação neste momento”.
JN - Quais são as suas orientações?
Dra. Mariana: “as pessoas pensam que aparecem apenas meros sintomas gripais como tosse e coriza e não é só isso. Alguns chegam apenas com dores no corpo, no fundo dos olhos ou de cabeça, sintomas estes que estão se confundindo com os da dengue que este ano não está tão grave. É importante procurar o médico tão logo apareçam os sintomas, porém o período correto para fazer a coleta é a partir do 3º dia dos sintomas. O atendimento médico é que vai demandar o tipo de tratamento a ser ministrado ao paciente. Não adianta se automedicar, pois é necessário passar pelo atendimento para que nós possamos ministrar a medicação adequada. É sabido que existem duas fases nesta doença. A primeira fase é o período de replicação viral que dura até o 7º dia, mas ainda é muito relativo, daí a necessidade de se passar por um atendimento médico. A segunda fase inicia após o 7º dia que é a fase inflamatória onde os sintomas podem se complicar. E se o paciente evoluir com estes sintomas é que nós médicos precisamos entrar com algumas medicações importantes. O que está erroneamente acontecendo é que as pessoas estão se antecipando e tomando medicamentos fora do período, o que está agravando os casos. Se a pessoa tem Covid, tem que passar por atendimento médico pois a partir do histórico do paciente e possíveis comorbidades saberemos como agir”.
JN: vocês tiveram casos de pacientes que estavam se automedicando e que tiveram complicações por conta disso?
Dra. Mariana: Vários casos inclusive que evoluíram a óbito. Quando o paciente vem ao consultório explicamos tudo isso, mas acontece que quando sai daqui fica se informando por mensagens falsas ou apelos de familiares e amigos em grupo de whatsapp dizendo pra tomar corticoides, prednisolona, azitromicina e outras medicações. Por exemplo, a azitromicina é um antibiótico que não age no vírus e não adianta tomar neste primeiro momento pois acaba prejudicando o sistema imunológico, matando as chamadas bactérias do bem ou seja, fazendo o sistema imunológico diminuir e perder eficiência. Ou seja, usando corticoide, que deprime o sistema imunulógico e a azitromicina, sem uma fase inflamatória no organismo para esses medicamentos atuarem, que assim o faz está agindo erradamente. No início da doença usa se apenas medicações sintomáticas ou seja, remédios para dar o conforto. Por exemplo, um paracetamol em casos de dores de cabeça”.
JN - Muitas pessoas estão se antecipando e correndo às farmácias atrás de medicamentos que, em testes preliminares, foram eficientes para combater esse novo coronavírus – seria o da cloroquina e da hidroxicloroquina. O que é essa medicação e para que ela serve?
Dra. Mariana: “essa medicação é utilizada para modular o sistema imunológico, para combater doenças autoimunes e para combater a malária. Quando bem-indicada, ela modula a nossa resposta imunológica. Só que ela procura critérios específicos, muito bem-observados, para só então poder ser indicada. Porque essa medicação também tem efeitos colaterais que chamam a atenção. Tudo na medicina deve ser pesado: efeito colateral, riscos e benefícios. E só quem consegue fazer isso é um médico”.
JN: Quais os efeitos colaterais para quem utilizar essa droga?
Dra. Mariana: “os efeitos colaterais passam por cardiopatia, insuficiência renal, cegueira… A lista de efeitos colaterais é extensa, mas o que podemos dizer é que pode causar graves danos à saúde. As pessoas não devem de maneira alguma buscar essa medicação, porque podem se infringir severos danos à saúde, tanto que estudos desses medicamentos são feitos em pacientes em estado grave porque entende-se que eles possam ter maiores benefícios com a medicação comparando o prejuízo que ela pode gerar ao prejuízo causado pela Covid-19. Então, quem tem sintomas gripais, suspeitas, casos leves, de maneira alguma deve iniciar e fazer uso dessa medicação. Ela tem sido feita apenas em estudos; não é autorizado o uso dessa medicação de maneira ampla pelo Ministério da Saúde e pela Anvisa”.
JN: O brasileiro, em muitos casos, costuma a se automedicar numa simples ida à farmácia. Quais os riscos dessa postura?
Dra. Mariana: “o primeiro risco que a gente entende é que as pessoas não procuram atendimento médico, logo elas já aumentam o risco de a doença que elas têm evoluir e perder a chance de um diagnóstico precoce. Num segundo momento, ainda tem os riscos da própria medicação que a pessoa utiliza, que podem ter efeitos colaterais variados, a depender da pessoa e da medicação. No caso da hidroxocloroquina, os efeitos são muito danosos. Trata-se de uma medicação que deve ser rigorosamente observada”.
JN: Como aumentar a imunidade? Quais conselhos você daria para que essa postura seja o mais natural possível?
Dra. Mariana: “toda pessoa tem um sistema imune. Se ela não tem uma doença autoimune, se não usar nenhum medicamento que suprime seu sistema imunológico, a imunidade dela tende a ser normal. O que ela pode fazer para manter essa normalidade é manter bons hábitos de vida, tipo com alimentação saudável, praticar atividades físicas com orientação, evitar desidratação com ingestão frequente de água, tentar evitar o estresse, ainda que o momento seja de tensão. Quem toma medicação de uso regular não deve parar de fazê-lo sem indicação médica”.
JN - Então, mudanças de hábitos e comportamentos que aumentam a imunidade não existem?
Dra. Mariana: “não. Aumentar a imunidade, não. O que a gente faz é preservar a imunidade, não se expondo a situações extremadas. A imunidade é relacionada a uma prática de vida saudável. A gente não a aumenta, mas pode prejudicá-la com a prática de exercícios exagerada, desidratação, estresse… uso de substâncias (como consumo de bebidas alcóolicas) de maneira exagerada pode baixar a imunidade. A imunidade é inata, e a gente tem que fazer tudo para preservá-la tendo hábitos de vida saudáveis, não utilizando medicação sem orientação médica e não se expondo a situações extremas”.