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Irmãos Fiorillo: ofício de Sapateiro exercido por gerações


Por: Alex Fernandes França
Data: 21/06/2019
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A Sapataria, herdada do pai, o saudoso pioneiro José Fiorillo (1922-1994), funcionou por décadas no centro de Nova Esperança e desde 2015 está em sede própria, próximo onde David e Jair moram.

A indústria calçadista é um dos setores que faz parte da base econômica do Brasil. Segundo informações do IEMI (Inteligência de Mercado), o setor produziu cerca de 897,6 milhões de pares de calçados só no período de janeiro a novembro de 2018. Comparando com 2017, houve um crescimento de quase 2% na produção. E o varejo não fica atrás: no mesmo período foram movimentados em torno de R$ 53 bilhões. Com todo esse avanço de comercialização no setor, há quem equivocadamente pense que a profissão de sapateiro está extinta. Muito pelo contrário. 

Como via de regra um calçado novo custa caro, então, acaba compensando mandar arrumar aqueles mais velhos.  Neste nicho de mercado é que os irmãos José David Fiorillo e Jair Donizette Fiorillo  atuam.   A Sapataria  foi herdada do pai, o saudoso pioneiro José  Fiorillo que  se aposentou em 1987, vindo a  falecer  1994, aos 72 anos de idade.

Ofício de família

A oficina está há 42 anos na família, porém a profissão remonta mais tempo, uma vez que os tios de David e Jair tiveram, juntamente com seu pai José,  uma selaria e sapataria na cidade de Rinópolis – SP. “Eles eram verdadeiros artesões”, reforça Jair. Ele explica que atualmente  os serviços  efetuados na oficina vão desde colagem simples, ao preço de R$10,00. “Saltinhos e remendos ficam R$15,00. Pintura vai custar ao cliente R$25,00 e o solado varia entre R$50,00 a R$80,00, conforme o tipo”, completa. 

David, o mais velho, começou profissionalmente com o pai no ano de 1980, época em que a Sapataria, que antes funcionava ao lado da casa, foi levada para o centro de Nova Esperança, na avenida 14 de dezembro, permanecendo até 2015. Neste ano, construíram um salão e retornaram ao endereço de origem, se livrando dos custos de aluguéis e outros encargos que uma “sapataria de fundo de quintal”, como ele mesmo define, não tem. 

Jair passou a trabalhar como sapateiro em  1988 e de lá para cá, ele e seu irmão nunca mais pararam ou sequer pensaram em mudar de profissão. 

“Eu me lembro do primeiro freguês da sapataria. Foi seu Alcino Sioberline. Ele entrou na nossa pequenina fábrica em 1978. Eu ainda não atuava profissionalmente, mas a cena permanece viva na memória", conta David.  Ele ressalta que, mesmo na época em que moravam no sítio, o pai nunca deixara o ofício morrer. “Ele fazia calçados para os moradores da região do Bairro Bela Vista e comercializava muito bem, pois eram produtos de qualidade”, ressalta David.

O prédio da antiga sapataria recentemente foi demolido. No local irá funcionar uma moderna agência da Cooperativa de Crédito Sicredi. O Bar do Gilmar Staub e o comércio de seu vizinho, “João da geladeira”, que já funcionavam bem antes dos “Fiorillo’s” se instalarem (meados da década de 70), também foram desmanchados. 

A compra da sapataria - 1980

A sapataria no centro da cidade foi adquirida junto à viúva de um antigo sapateiro chamado Osvaldo Barbosa. “Antes dele, que morreu devido a um aneurisma cerebral, existia outro profissional, chamado Zé do Povo, de quem ele comprou o ponto. Como já possuíamos  a sapataria em casa, meu pai resistiu e disse que não teria interesse, pois os equipamentos que tinha lá nós também possuíamos: uma máquina de costura, forma e lixadeira. Depois a senhora acabou negociando e retirando os maquinários. Com todo os equipamentos ela pedia CR$30 milhões (algo em torno de R$30 mil). Depois acabamos comprando por CR$16 milhões, quase metade do valor pedido”, conta David.

Os novos proprietários começaram fazendo chinelos, sapatos, cintas e até chaveiros em couro. “No começo a gente tinha pouco serviço, pois como o sapateiro anterior morreu, a freguesia se dispersou. Até fazer o nome levou certo tempo. Nós assumimos 02 meses após seu falecimento e antes deles venderem, o filho e genro tentaram tocar o negócio. Como ambos, sem serviço, ficavam apenas na porta sem fazer nada, a clientela dava voltas. Meu pai nos falava que não era bom o sapateiro ficar sem fazer nada, pois causa a impressão de que se não tem serviço é porque não é um bom profissional. Sempre me lembro do que meu velho pai dizia e até hoje me emociono”, complementa. 

As peças, expostas em cima do balcão iam atraindo a clientela que foi aumentando com o passar dos anos. Já há algum tempo eles não fabricam mais e vivem dos consertos que dobraram nos últimos tempos. “Quem tem um calçado de qualidade opta por reparar os estragos ao invés de comprar algo novo, que custa muito caro”, avalia o caçula Jair. 

“No primeiro dia de sapataria meu pai foi trabalhar para um conhecido no serviço de debulhar milho, o que dava muito trabalho. Ele voltou com dor de cabeça e cansado, pois achou que teriam outros trabalhadores pra ajudar. Era apenas ele debulhando milho.  Perguntei quanto ele ganhou e me disse: “50 Cruzeiros”. Ao que respondi: pois é, eu fiquei aqui fazendo o que gosto e ganhei 120 Cruzeiros, quase o triplo do senhor”, relembra David Fiorillo. 

Vasta clientela

Teve uma época de calçados cada vez mais descartáveis e a profissão ficou ameaçada. A fase passou e os consumidores perceberam que um produto de melhor qualidade e maior durabilidade garante a possibilidade de consertos futuros. “Vale a pena a pessoa consertar o calçado. Nunca ficamos sem trabalhar. Entre 1982 a 1993 eu chegava a levar serviço pra fazer em casa, na época em que fabricávamos. Hoje, com a produção em série a competitividade ficou comprometida”, explicou Jair. 

Os irmãos Fiorillo conseguiram fidelizar clientes que outrora moraram em Nova Esperança e que se mudaram para a região, sobretudo para Maringá. Eles  continuam se deslocando mais de 40 quilômetros para trazer os consertos para serem feitos em seu estabelecimento. 

“Quando saímos   do centro da cidade, para fugir do aluguel chegamos  a pensar que muitos dos clientes não continuariam. “Pelo contrário, dobrou a clientela, pois onde estamos é fácil de se estacionar”, analisam.  

O primeiro calçado foi registrado na história do Egito, por volta de 2000 a 3000 a.C.. Trata-se de uma sandália, composta por duas partes, uma base, formada por tranças de cordas de raízes como, cânhamo ou capim, e uma alça presa aos lados, passando sobre o peito do pé. 


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