A generic square placeholder image with rounded corners in a figure.


Manguezais do Paraná abrigam 47 milhões de toneladas de carbono azul


Por: Assessoria de Imprensa
Data: 14/03/2025
  • Compartilhar:

Levantamento realizado pelo projeto Cazul com apoio da Fundação Grupo Boticário revela que estado pode gerar R$ 1,2 bilhão em crédito no mercado voluntário de carbono

O Paraná é o Estado do Sul que concentra a maior área de manguezais. Região Sul conta com 24 municípios com o ecossistema, ameaçado pela produção de commodities, poluição, desmatamento e outras ações humanas

Foto: Herton Escobar

O Paraná está entre os cinco Estados com as maiores reservas de carbono azul do Brasil, com 47,6 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO?) armazenadas em seus manguezais. Esse potencial pode se traduzir em pelo menos R$ 1,2 bilhão em crédito de carbono no mercado voluntário. Apesar de sua importância, as áreas de manguezal enfrentam ameaças crescentes, como desmatamento, poluição e a pressão da produção de commodities.

Os cálculos fazem parte do estudo "Oceano sem Mistérios: Carbono azul dos manguezais", conduzido pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e pelo projeto Cazul, do Rio de Janeiro. Espera-se que, com a regulamentação do mercado de carbono em dezembro de 2024 (Lei 15.042/2024), seja fortalecida a transição para uma economia de baixo carbono. Em um cenário favorável, com uma precificação desejada de 100 dólares a tonelada, estima-se que o valor do carbono armazenado nos manguezais paranaenses possa alcançar até R$ 26,7 bilhões.

Para garantir a manutenção desse estoque, chamado de carbono azul, por estar associado a ambientes marinhos, os estados precisam proteger seus manguezais, mantendo-os saudáveis. "Dessa forma, é possível assegurar todos os benefícios que esses ecossistemas oferecem, como a proteção da linha de costa, reduzindo a força e o alcance das ondas, a manutenção da produção pesqueira, a conservação da biodiversidade, entre muitos outros. Além disso, os créditos de carbono representam uma estratégia adicional para financiar a conservação dessas áreas", explica Alexander Turra, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), professor titular do Instituto Oceanográfico da USP e responsável pela Cátedra UNESCO para a Sustentabilidade do Oceano.

O Paraná é o Estado do Sul com a maior concentração de manguezais. Ao todo, 24 municípios da região Sul (sendo 6 no Paraná e 18 em Santa Catarina) abrigam esse ecossistema, que reúne uma população de 2,4 milhões de pessoas. Ao todo, no Brasil, os manguezais armazenam 1,9 bilhão de toneladas de CO?, o que representa um potencial de geração de até R$ 48,9 bilhões em créditos de carbono, conforme o valor praticado no mercado voluntário. Esse valor pode alcançar até R$ 1,067 trilhão, caso o preço da tonelada de CO? atinja a marca de R$ 562,00, em um cenário de transição para uma economia de baixo carbono. No mercado voluntário brasileiro, a tonelada de CO? já foi negociada a R$ 25,85, com a cotação de R$ 5,62 para cada dólar. Considerando o aumento médio anual de 2,9 milhões de toneladas do estoque de carbono azul, os pesquisadores estimam um incremento de R$ 75,2 milhões por ano no mercado voluntário.

Como funciona

O mercado de créditos de carbono ganha força com as metas ambientais de cada país para frear o aquecimento global, tornando necessária a descarbonização de diversos setores da economia. Nesse cenário, o crédito de carbono é um mecanismo que permite que empresas e países compensem suas emissões de CO?, comercializando créditos e investindo em projetos que reduzam ou capturem gases do efeito estufa, como a conservação de florestas e manguezais.

Parcela significativa das emissões vem de ações humanas, como o uso de combustíveis fósseis, o desmatamento, a agropecuária e processos industriais. Parte desse carbono é capturada pela vegetação, mas também por outros organismos fotossintetizantes, como as algas, e armazenada em troncos, galhos, raízes, folhas e, especialmente no manguezal, no solo, auxiliando no equilíbrio atmosférico e minimizando o aquecimento global e seus eventos extremos. Cada crédito equivale a uma tonelada de CO? que deixou de ser emitida ou foi absorvida da atmosfera.

Ameaças

O Brasil possui a segunda maior extensão de manguezais do planeta, ficando atrás apenas da Indonésia. O estudo "Oceano sem Mistérios: Carbono azul dos manguezais" identificou a presença de 1.390.664 hectares de manguezais ao longo da costa brasileira - área equivalente a nove cidades de São Paulo ou 11 cidades do Rio de Janeiro. Eles estão presentes em 300 municípios brasileiros - principalmente nas regiões Norte e Nordeste. Em relação aos biomas, 75% estão conectados com a Amazônia, 18% com a Mata Atlântica, 5% com o Cerrado e 2% com a Caatinga.

"A partir do conhecimento gerado neste estudo, esperamos inspirar ações concretas a favor da proteção e conservação desse ecossistema costeiro-marinho vital para a saúde do planeta e de suas comunidades. Políticas e planos de adaptação às mudanças do clima, gestão de riscos e desenvolvimento costeiro devem incluir medidas para proteger, conservar e restaurar manguezais. Essas ações merecem a atenção de tomadores de decisão, iniciativa privada e de toda a sociedade", afirma a diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, Malu Nunes.

Estima-se que o Brasil já tenha perdido cerca de 25% da vegetação original de seus manguezais. As principais ameaças a esse ecossistema incluem a conversão de áreas para a produção de commodities na aquicultura e na agricultura, especialmente para o cultivo de camarões, peixes, arroz e palma; o desmatamento para extração de carvão vegetal e madeira; a ocupação desordenada devido ao crescimento urbano; práticas predatórias de pesca, como a pesca de arrasto e a captura de espécies fora do período de defeso; além da poluição causada por resíduos químicos (que incluem agrotóxicos e derramamento de óleo, por exemplo), além de lixo e esgoto. Efeitos das mudanças climáticas, como o aumento do nível do mar e a erosão costeira, também intensificam os riscos para esses ambientes.

Diante dessas ameaças, é essencial adotar medidas eficazes de proteção, alerta o professor Alexander Turra. "A conservação dos manguezais deve considerar as atividades socioeconômicas das comunidades tradicionais, promovendo oportunidades de geração e distribuição de renda para caiçaras, quilombolas e indígenas que dependem desses ecossistemas. Essa abordagem não apenas fortalece a conservação, mas também impulsiona um modelo de desenvolvimento sustentável bem estruturado", ressalta.

O estudo

O estudo identificou e atualizou informações sobre as áreas de manguezal no Brasil por meio da interpretação visual e classificação automática de imagens de satélite, partindo de uma base de dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) de 2018. "Com imagens temporais da plataforma Google Earth Engine, traçamos parâmetros para avaliar o estado de conservação das áreas e o índice de vegetação associado para auxiliar nos cálculos de estoque de carbono, entendendo a quantidade de dióxido de carbono que é acumulado em cada estrutura das florestas de manguezal", explica Laís de Oliveira, líder executiva do projeto Cazul, uma das responsáveis pelo estudo.

Soluções e serviços oferecidos pelos manguezais

Berçário para a vida marinha em meio à intrincada rede de raízes aéreas e submersas e ambiente rico em nutrientes.

Manutenção de estoques pesqueiros, garantindo potencial econômico e renda para comunidades locais e para a pesca industrial (70% dos estoques da pesca industrial dependem do manguezal em algum momento de seus ciclos de vida), além de contribuir com a segurança alimentar.

Suporte à biodiversidade e ao equilíbrio ecológico, oferecendo ambiente de descanso, alimentação e reprodução para diversos animais, como aves e mamíferos.

Manutenção do fluxo gênico, pois cada manguezal é responsável por manter uma rede que conecta diferentes populações de animais e vegetais ao longo da costa. A perda de um manguezal pode comprometer esse sistema.

Filtros naturais, com raízes que impedem a chegada de resíduos ao mar aberto e com poluentes sendo aprisionados no sedimento, favorecendo a qualidade da água em regiões próximas e a saúde de outros ecossistemas, como os recifes de corais.

Engenheiros ecossistêmicos na proteção e resiliência de comunidades costeiras e da infraestrutura urbana contra a erosão costeira, o avanço do mar e a intrusão salina (entrada de água salgada em ambientes de água doce), além de elevar o nível do solo com a retenção de sedimentos, podendo acompanhar o aumento do nível do mar em algumas ocasiões.

US$ 65 bilhões em danos patrimoniais evitados todos os anos no mundo com a atuação dos manguezais. (Fonte: Global Mangrove Alliance)

Amortecedores da força e alcance das ondas, marés, ventos e tempestades, servindo como obstáculo e uma primeira linha de defesa contra inundações, sendo que 100 metros de floresta reduzem a energia da onda em dois terços

15 milhões de pessoas no mundo são beneficiadas pela redução no risco de inundações oferecida pelos manguezais.

Estoque de Carbono Azul, com maior retenção de carbono no solo pobre em oxigênio e em sua estrutura devido à desaceleração do processo de decomposição.  

Sobre a Fundação Grupo Boticário

Com mais de 30 anos de história, a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza é uma das principais fundações empresariais do Brasil que atuam para conservar o patrimônio natural brasileiro. Com foco na adaptação da sociedade às mudanças climáticas, especialmente em relação à segurança hídrica e à proteção costeira, a instituição atua para que a conservação da biodiversidade seja priorizada em todos os setores. Alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, considera que a natureza é a base para o desenvolvimento social e econômico do país. Sem fins lucrativos e mantida pelo Grupo Boticário, a Fundação Grupo Boticário contribui para que diferentes atores estejam mobilizados em busca de soluções para os principais desafios ambientais, sociais e econômicos. Já apoiou mais de 1.700 iniciativas em todos os biomas no país. Protege duas reservas naturais de Mata Atlântica e Cerrado – os biomas mais ameaçados do Brasil pelo desmatamento –, somando 11 mil hectares, o equivalente a 70 Parques do Ibirapuera. Com 1,4 milhão de seguidores nas redes sociais, busca também aproximar a natureza do cotidiano das pessoas. A instituição é fruto da inspiração de Miguel Krigsner, fundador e presidente do Conselho do Grupo Boticário, criada em 1990, dois anos antes da Rio-92 ou Cúpula da Terra, evento que foi um marco para a conservação ambiental mundial. | www.fundacaogrupoboticario.org.br | @fundacaogrupoboticario (Instagram, Facebook, LinkedIn, Youtube, TikTok).

Sobre a Guardiões do Mar e o projeto Cazul

A ONG Guardiões do Mar há 26 anos produz e apoia a ciência, promovendo o protagonismo juvenil e mobilizando comunidades para a conservação e/ou restauração de ecossistemas costeiros, em especial no combate ao lixo no mangue e no mar. Junte-se a nós neste movimento. Siga as redes da @guardioesmar e do @cazul.br e apoie o futuro dos manguezais brasileiros. Eles são importantes aliados no combate a emergências climáticas, além de oferecerem serviços ecossistêmicos que fomentam a socioeconomia e a sociobiodiversidade local.

Sobre a Rede de Especialistas em Conservação da Natureza

A Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) reúne cerca de 80 profissionais de todas as regiões do Brasil e alguns do exterior que trazem ao trabalho que desenvolvem a importância da conservação da natureza e da proteção da biodiversidade. São juristas, urbanistas, biólogos, engenheiros, ambientalistas, cientistas, professores universitários – de referência nacional e internacional – que se voluntariaram para serem porta-vozes da natureza, dando entrevistas, trazendo novas perspectivas, gerando conteúdo e enriquecendo informações de reportagens das mais diversas editorias. Criada em 2014, a Rede é uma iniciativa da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Os pronunciamentos e artigos dos membros da Rede refletem exclusivamente a opinião dos respectivos autores. Acesse o Guia de Fontes em www.fundacaogrupoboticario.org.br


Anuncie com Jornal Noroeste
A caption for the above image.


Veja Também


smartphone

Acesse o melhor conteúdo jornalístico da região através do seu dispositivos, tablets, celulares e televisores.