Entre chuvas, lágrimas e solidariedade para com o outro
Se podemos definir o que seja solidariedade, pode-se descreve-la como o modo no qual, os indivíduos enquanto ligados por uma forma de vida intersubjetiva, praticam a cooperação, com o objetivo de manterem a liberdade, a integridade física e o respeito por suas respectivas vidas, assim como a vida de outros. Quando experenciamos, entre chuvas e lágrimas, a solidariedade do povo brasileiro para com os seus outros do Rio Grande do Sul, podemos destacar a atitude ética de deixar de lado o eu egóico e prestar solidariedade ao outro que está ao meu lado e que sofre.
Remeto-me a visão ética do pensador judeu-lituano Emmanuel Lévinas que destaca a importância de olhar o rosto do outro que sofre e nesta condição, ativa a responsabilidade do eu, em sentido de ajudar este outro que tanto necessita de auxílio. Nos convoca a prestar a solidariedade da qual tanto necessita. Aqui, tal processo afirma o caráter mais intenso do que se denomina de alteridade, a partir de um choque ou trauma que abala os modos de ser egoístas do eu, confrontando-se com o sofrimento expresso no rosto do outro.
Entre chuvas e lágrimas, presentes nos acontecimentos recentes no Rio Grande do Sul, estabelece-se relações éticas para as relações entre humanos e também de fraternidade, que surge antecedendo a noção de cidadania política. Assim a solidariedade ultrapassa interesses egoístas, demonstrando-se como necessária inclusive para o estabelecimento de relações políticas, possibilitando a iniciativa de atitudes de fraternidade e que recusem a efetivação de posturas autoritárias e indiferentes para com o outro.
Que tal tragédia, acontecida entre chuvas e lágrimas, no Rio Grande do Sul, afirme a solidariedade entre nós, como um aglutinador social, político e ético, essencial para a consolidação de uma sociedade mais equilibrada, com maior liberdade civil, sentimento ético para com o outro e mais justiça social.