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A Causa da Crise Energética no Brasil


Por: Sérgio Inácio Gomes
Data: 14/10/2021
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Sérgio Inácio Gomes (*)

 

Nesses últimos tempos um assunto que reflete um problema real muito preocupante para todo o país, é a crise energética que se associa a uma suposta crise hídrica, que é um assunto de difícil compreensão pela comunidade.

Será que podemos jogar a responsabilidade e a culpa da falência de um modelo equivocado de concepção mercantil do setor energético do país, nas costas de São Pedro.

Eu, enquanto professor do curso de engenharia elétrica do Campus de Paranavaí do IFPR, acredito que devemos dialogar com a comunidade para refletir sobre as origens e a abrangência dessa crise que, diferentemente do que se interpreta de forma superficial em muitos veículos de comunicação ao falar desse problema, parece que o entendimento comum é o de que se trata de uma simples crise hídrica. Portanto, sentenciam que a culpa é de São Pedro e ponto final.

Ora, o período atual já teve precedentes muito parecidos entre os anos de 1948 até 1956. A engenharia deve buscar uma melhor compreensão acerca dessa problemática para que se estabeleça uma redefinição com base em parâmetros mais técnicos e menos ideológicos para resolver os problemas energéticos do país.

Enquanto acreditarmos que critérios econômicos devem ser os parâmetros definidores das ações e tomadas de decisões importantes para o setor energético, continuaremos a nos deparar com as consequências de um modelo mercantil equivocado, que precisa ser redefinido.

Desde que se estabeleceu o modelo mercantil ao setor elétrico brasileiro, a partir do início dos anos 90, o país se debate acerca da necessidade de administrar graves crises de racionamentos e apagões que se manifestam de tempos em tempos, como sendo apenas a “ponta de um iceberg”, que nos índica que o problema está mais em baixo do que aquele problema que se aparenta em nosso campo de visão, afinal a parte visível de um iceberg é apenas 10% de seu tamanho.

No artigo intitulado “A Crise Hídrica, a Operação do Setor Elétrico e a Economia Brasileira”, que publiquei recentemente na página do Instituto Ilumina [1], apresentei um estudo da Agência Internacional de Energia sobre tarifas da energia elétrica, no qual o Brasil possui uma das tarifas residenciais mais caras do planeta. Sem motivo técnico algum, pois a matriz elétrica brasileira é preponderantemente hidráulica, a modalidade de geração mais barata de todas. Mas os acionistas das companhias de eletricidade estão ganhando sendo “remunerados” como nunca antes ganharam tanto, basta consultar os atuais índices de rentabilidade de tais empresas.

No setor de derivados de petróleo, a realidade é a mesma. Só se fala em aumentos da gasolina, do gás de cozinha, do diesel, etc. e olha, que já estão em um patamar insuportável pela população brasileira.

Infelizmente somos um povo desinformado, não sabemos por exemplo que a gasolina poderia custar hoje, menos de quatro reais. Acontece que o país adotou o chamado “preço de paridade de importação”, o PPI.

Ou seja, é o preço de referência internacional, como se o Brasil não fosse um simples importador ao invés de ser um dos grandes produtores mundiais de petróleo e como se não fossemos o país que descobriu a maior reserva de petróleo do planeta no século XXI, que é o pré-sal.

Com essa política, a Petrobrás segue o preço do barril no exterior (em dólar), mesmo sendo um produto extraído aqui no Brasil, sem importação alguma, mas os acionistas da empresa ganham muito, muito dinheiro com tudo isso.

Importante lembrar que o papel da engenharia é projetar, diagnosticar e corrigir nossos problemas estruturais, a exemplo do setor energético. Se o problema fosse apenas má vontade de São Pedro, já não seria um problema de engenharia e sim de fé. Afinal, bastaria rezarmos um pouco mais e fazer nossos pedidos aos santos de forma mais eficaz e eficiente e tudo estaria resolvido.

Porém, a solução que deve se buscar para solucionar o problema faz parte da engenharia, e para avaliar as hipóteses de soluções eficazes se requer uma análise mais atenta aos equacionamentos e estudos de dados que levem a resultados mais precisos do que tentar convencer os santos por mais fé que tenhamos neles.

[1] Artigo disponível em (http://www.ilumina.org.br/a-crise-hidrica-a-operacao-do-setor-eletrico-e-a-economia-brasileira/)

(*) Professor de Engenharia Elétrica do Campus Paranavaí do IFPR, Engenheiro eletricista, Doutor em Eng. Química

 

Sérgio Inácio Gomes


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