‘’ Temos sido pródigos em julgar pessoas e comportamentos. Se sempre foi assim, o tempo acelerado pela rede virtual aprofundou ainda mais o cacoete. Perdemos o pudor em adjetivar, condenar e executar sumariamente. Celebramos como bárbaros os justiçamentos e nos sentimos menos bárbaros porque encontramos ecos para as próprias irracionalidades’’. – Andréa Pachá. 

A obra ‘’ O sol é para todos’’ da autora americana Harper Lee, vai de encontro com a afirmação da juíza e escritora carioca, Andréa Maciel Pachá, uma vez que ambas retratam a rapidez das sentenças advindas da coletividade: o ser humano está sempre pronto para o julgamento alheio, seja lá a causa, despido de qualquer nível mínimo de reflexão. 

A narrativa do livro se passa em Maycomb, uma cidade fictícia do Alabama (EUA) e gira em torno de um acontecimento que motivou intensa comoção social, qual seja, um homem negro acusado de cometer um sério e chocante crime contra uma jovem branca. Nesse sentido, toda a história é relatada por Scout, a garotinha dotada de um olhar crítico sobre o mundo e filha de Atticus Finch, o advogado incumbido em defender Tom Robinson, o incriminado. 

Tom Robinson começou a ser condenado antes mesmo de o júri acontecer e os responsáveis foram o preconceito, a seletividade, a rudeza e a maldade do ser humano, de tal forma que o advogado e a sua família foram excomungados conjuntamente. Atticus, um homem e profissional que antes era visto com respeito, passou a ser desmoralizado por simplesmente exercer um dos pilares da democracia, a defesa.  

O livro traz várias lições, entre elas a de que a sociedade já pune vertiginosamente e quando incluído o racismo, a repreensão é ainda maior, inexistindo espaço para ponderação. Condenado pela cor da sua pele mesmo sendo inocente, Tom acabou sendo vítima e sofrendo as consequências da irracionalidade humana. Harper Lee retratou na arte o que acontece na realidade da vida. E por falar em vida real, será mesmo que o sol é para todos? 

Indicação de série: ‘’ Olhos que condenam’’.