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UM FILME MINECRAFT


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 10/04/2025
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Me preocupa a permanente falta de criatividade à qual a indú
stria cinematográfica de Hollywood está imersa. Já faz tempo que comento sobre isso e, a cada temporada, parece que tudo continua igual, com os grandes estúdios e os principais profissionais da área se esforçando em projetos sem muita, ou quase nenhuma novidade ou exclusividade. Mais um fruto dessa letargia de criatividade é o novo Um Filme Minecraft, que acabou de chegar ao cinema. O jogo é um fenômeno ao redor do mundo e, bem por isso, uma garantia de sucesso no cinema. Mesmo assim, é notório o interesse do público infanto-juvenil pela obra, o que já assegura de antemão uma fatia de sucesso. Sobre esse filme, a Coluna Sétima Arte desta semana trará algumas considerações.

Vamos começar partindo de uma reflexão lógica: Se adaptar um livro para as telas já é um grande desafio, imagine então transformar um jogo sem enredo fixo, baseado quase que inteiramente na criatividade do jogador, em uma narrativa cinematográfica coerente. É exatamente esse o desafio enfrentado por roteiristas, produtores e o diretor de Um Filme Minecraft. Um problema que eles buscam resolver com coragem, comédia e um punhado de blocos virtuais. E é preciso reconhecer que, apesar de alguns tropeços ao longo do caminho, essa construção se sustenta melhor do que eu esperava.

O longa, dirigido por Jared Hess, conhecido por seu humor peculiar e um olhar estético excêntrico, mergulha de cabeça no universo quadradinho de um dos games mais populares da história. A tarefa não foi simples: como contar uma história onde, originalmente, não há história? A solução veio por um caminho familiar: personagens cativantes, a boa e velha jornada do herói e um pouco de caos divertido. Uma fórmula arriscada, que funciona em partes. Mas quando funciona, funciona bem!

O enredo gira em torno de Garrett Garrison, interpretado por Jason Momoa, um ex-campeão de videogame que, ao perder sua glória, vai parar dentro do próprio universo de Minecraft. Junto a ele, temos o guia empolgado Steve, papel de Jack Black, que, como sempre, entrega carisma em doses cavalares, mesmo que de forma caricata. A dupla, inusitada, é sem dúvida o ponto alto do filme. A química entre Momoa e Black é inegável, daquelas que arranca risadas até nos momentos mais previsíveis. A amizade em cena parece nascer de uma parceria verdadeira por trás das câmeras – e isso, é claro, faz toda a diferença.

Visualmente, o filme entrega aquilo que se espera: um mundo todo construído em blocos, com paisagens pixeladas que piscam nostalgia para os fãs do jogo. O trabalho em CGI é competente, e o design respeita a estética original do game, sem tentar suavizar ou “embelezar” o que já é peculiar por si só. Não há dúvida de que os criadores foram fiéis à essência do universo Minecraft.

Contudo, nem tudo são diamantes nessa mina. O roteiro, escrito a dez dedos por cinco mãos diferentes, tropeça feio na hora de estabelecer ritmo e profundidade. Há momentos em que a exposição beira o exagero. Jack Black passa boa parte do filme explicando regras, ferramentas e conceitos do jogo como se estivesse lendo o manual em voz alta. Para os fãs mais jovens, isso pode até funcionar. Mas para o público mais experiente soa como excesso de didatismo e isso compromete a experiência de imersão.

Além disso, a narrativa caminha por trilhas bem batidas: temos o artefato mágico, a vila em perigo, o herói relutante e a batalha final com direito a explosões e frases de efeito. Se você for fã de filmes de aventura irá perceber ecos de Jumanji, de Uma Aventura LEGO e até de Super Mario Bros ao longo do filme, algo que, infelizmente, tira um pouco da identidade própria de Um Filme Minecraft. Diante da falta de criatividade na escolha da temática, o mínimo que se esperava era um pouco mais de originalidade, já que esse é um universo cuja principal proposta é a liberdade criativa.

O elenco de apoio cumpre seu papel, ainda que em segundo plano. A irmã de Henry, a corretora de blocos e a excêntrica Marlene, interpretada por ninguém menos que Jennifer Coolidge (eu tenho certeza que esse nome te fez lembrar da série White Lotus, se não fez, precisa atualizar seu repertório sobre cultura pop da atualidade) surgem mais como peças de cenário do que como personagens relevantes. Aqui, o roteiro parece desperdiçar oportunidades de aprofundar tramas paralelas ou explorar melhor as dinâmicas entre os personagens secundários.

Mas nem tudo precisa ser profundo para ser bom, certo? Um Filme Minecraft não tem pretensões de reinventar o cinema ou de emocionar com camadas complexas de subtexto. É um filme comercial que se assume como entretenimento para toda a família e faz isso de maneira competente. Há risos sinceros, há referências para os fãs, há personagens que podem não ser inesquecíveis, mas são simpáticos o bastante para fazer companhia ao público ao longo dessa jornada pixelada.

Por que ver esse filme? No fim das contas, talvez o maior acerto do filme seja justamente o que Minecraft sempre ofereceu: um espaço para imaginar, brincar e construir memórias e isso basta para fazer com que os fãs do jogo possam ver o filme no cinema. Pode ser que a história não seja lá muito original, ou que o humor nem sempre acerte em cheio. Bom uma boa dose de boa vontade você vai encontrar ali uma experiência divertida e, às vezes, é só isso que a gente precisa. Boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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