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TEMPOS DE PALAVRÓRIO


Por: Rogério Luís da Rocha Seixas
Data: 29/03/2021
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Desde a filosofia grega antiga, pensadores como Platão, debruçaram-se sobre a questão referente à coerência entre a linguagem e a realidade. Se de fato, a palavra proferida sobre algo da realidade a descrevia com coerência e verdade. Caso assim não fosse, o que se proferia sobre algo, não passava de mera opinião e erro. Agora, nos situemos em nossos tempos. Indiscutivelmente, marcado pelas redes sociais, que se apresenta como um grande marco tecnológico, comunicacional e social de forma positiva em muitos aspectos, não se pode negar que se tornou também no espaço de muito se dizer, mas nada de fato se fala. Muito se escreve, mas em muitas ocasiões, nada coerente e pouco consistente. Caímos assim no que podemos descrever como “tempos de palavrório”, onde todos querem opinar sobre tudo. Muitas informações são passadas, muita coisa é escrita e vista, mas se analisarmos criticamente, são reuniões de palavras e imagens vazias tanto de significado quanto de conhecimento. Muito pouco acrescentam. Em grande parte, só causa desinformação e confusão, com discursos inconsistentes, deformados e pomposos. As vezes tendenciosamente, colocados para causar o caos e a discórdia. Tal fato ficou muito visível na crise da pandemia que estamos passando.

Destaque-se que muitas dimensões da atividade humana estão contaminadas pelo palavrório. A atividade política, sempre se utilizou do palavrório em sua linguagem, mas que cada vez mais e mais, torna-se medíocre e enfadonho. A mídia, que apesar de sua importante função, muitas vezes abusa de relatos e imagens vazias de informação, mas cheias de mera emoção e irreflexão. E mesmo no meio acadêmico, que se coloca como produtor de pensamento e conhecimento, atualmente em sua maior porção, preocupa-se somente em produzir e acumular discursos e palavras que nada somam. Há um esvaziamento do senso crítico e muitas coisas ditas ou escritas de forma irrefletida, passam enquanto verdades praticamente inquestionáveis. Devemos ter cuidado com o que escrevemos ou dizemos, principalmente em ambientes apontados como meios de informação e conhecimento, referindo-me aqui principalmente às redes socais. Há um ditado popular conhecido que diz: “paus e pedras podem quebrar meus ossos, mas palavras nunca”. Penso que em nossos tempos de palavrório, deve-se analisar se esse dito popular já não pode significar em si mesmo um mero palavrório.      

Rogério Luís da Rocha Seixas

Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com


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