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Precisamos conversar sobre a exposição de conflitos familiares na internet em desfavor de crianças e adolescentes


Por: Juliani Bruna Leite Silva
Data: 18/01/2022
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*Juliani Leite / **Luiza Gabriella Berti

 

Com o passar das épocas e a evolução do mundo, é natural que até mesmo a natureza dos problemas da humanidade seja modificada. O desenvolvimento tecnológico aliado à má conduta humana são responsáveis por grande parcela dos imbróglios que temos visto e até mesmo vivenciado na atualidade. E dentre eles está, justamente, a exposição de conflitos familiares no universo digital.  

Hoje, em uma olhada no feed do Facebook, ficamos sabendo sobre o processo de divórcio conturbado que fulana e cicrano estão enfrentando. Ao navegarmos pelos stories do Instagram, nos deparamos com a viralização de acusações, desabafos e relatos pessoais que envolvem problemas de guarda, prestação alimentícia, convivência familiar e por aí vai... 

Tem se tornado cada vez mais comum artistas, pessoas públicas, celebridades e subcelebridades utilizarem as ferramentas digitais para a exibição de conflitos e divergências de família. E vários são os cidadãos que, sob influência dessas pessoas ou por disposição própria, também vão à internet tornar público assuntos que são privados. 

Com o poder do mundo digital, rapidamente a vida e a intimidade familiar são transformadas em um imenso espetáculo. Para o filósofo sul-coreano radicado na Alemanha, Byung-Chul Han (2018) “As ondas de indignação são eficientes em mobilizar e compactar a atenção”. 

Não podemos ignorar o fato de ser constitucionalmente garantido o direito à liberdade de expressão. Por outro lado, porém, é inadmissível a violação aos direitos personalíssimos como a imagem, a honra, a intimidade, o nome, a integridade psíquica, entre outros, especialmente quando os titulares desses direitos são crianças e adolescentes. 

Além de ofender direitos, é uma prática que também transgride diretrizes básicas e princípios do Direito das Famílias e do Direito da Criança e do Adolescente, tais como o melhor interesse de crianças e adolescentes; a responsabilidade e solidariedade parental/familiar; o dever de cuidado e proteção da entidade familiar em relação aos filhos e, até mesmo, a dignidade humana.

Afinal de contas, é certo que mesmo após a “poeira ser baixada”, as marcas da exposição persistem, na alma, na mente e na vida de crianças e adolescentes, que são os indivíduos mais vulneráveis da história. Pode ser tido como um simples post, mas uma publicação na internet tem o potencial de gerar repercussões que serão sentidas na futuridade. 

Pessoas conhecidas e desconhecidas entram pela porta da frente nos problemas familiares, mediante a permissão daqueles que, contraditoriamente, deveriam promover proteção e propiciar resguardo, isto é, a família. E crianças e adolescentes passam a ter que lidar com a imposição de uma circunstância tão negativa à sua esfera moral e psíquica, bem como ao seu desenvolvimento pessoal. 

Vergonha, constrangimento, sentimento de culpa, abalos emocionais são somente alguns dos danos presentes na longa série de efeitos negativos que podem ser acarretados. Daí a necessidade de se falar sobre o assunto, em tom de alerta, e evidenciar o quão prejudicial o comportamento em questão pode se apresentar à comunidade infantojuvenil. Até porque assim como a palavra pronunciada e a flecha lançada, a postagem virtual ao ser difundida não volta atrás. 

Juliani Bruna Leite Silva

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