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Epidemias, história e valorização da ciência nacional


Por: Assessoria de Imprensa
Data: 07/08/2020
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Por Itamar Sateles de Sá*

As epidemias fazem parte da história da humanidade. Desde épocas remotas temos relatos de moléstias que arrasaram diversas regiões por todo o mundo. A primeira epidemia que se tem registros, por volta de 429 a.C, ficou conhecida como praga de Atenas e é apontada por inúmeros estudiosos como a principal causa da derrocada dessa cidade-estado. A epidemia foi responsável pela morte de cerca de 35% da população local. 

Além disso, outro exemplo é a peste bubônica, também conhecida como peste negra, que atuou na segunda metade do século XIV, na Idade Média. Essa doença surgiu na Ásia, alastrando-se pela Europa e África, deixando aproximadamente 50 milhões de mortos na época. Alguns pesquisadores acreditam que o número real de mortes tenha sido maior, cerca de 200 milhões de vítimas fatais. 

A peste negra é causada por bactérias presentes em ratos e pulgas, animais abundantes nas cidades da Idade Média, devido principalmente à falta de saneamento básico e aos maus hábitos de higiene. Em 2018, a Organização Mundial da Saúde (OMS) chegou a classificar essa doença como reemergente depois de diagnosticar, entre 2010 e 2015, pouco mais de 3.000 casos e 584 mortes em todo o mundo.  No Brasil, o último caso foi registrado em 2005. 

De lá pra cá, inúmeras doenças surgiram e desapareceram. Algumas de quando em quando ameaçam novamente, como é o caso do sarampo, da febre amarela e da dengue no Brasil.

Do século XX até agora, inúmeras epidemias foram registradas, como é o caso da gripe espanhola, do tifo, da malária e da AIDS. Atualmente, vivenciamos a pandemia de Covid-19, causada por um novo coronavírus. Até a elaboração desse artigo, essa doença já tinha infectado mais de 18,2 milhões de pessoas em todo o mundo e matado mais de 692,2 mil.

Ao longo da história, epidemias e pandemias provocaram tragédias tão terríveis quanto guerras e desastres naturais. Mas afinal, qual o significado desses termos? De forma breve, podemos descrever epidemia como uma doença geralmente infecciosa, de caráter transitório, que ataca simultaneamente uma grande quantidade de indivíduos em uma determinada área. Podemos usar como exemplo, na nossa região, a epidemia de dengue, que em determinadas épocas do ano, principalmente no verão, infectam inúmeras pessoas, sobrecarregando o sistema público de saúde.  

Por sua vez, quando essa doença se alastra por várias partes do mundo, atingindo vários continentes, como é o caso da Covid-19, ela é classificada como pandemia. Em 11 de março deste ano a OMS inseriu a Covid-19 nesse grupo de doenças, uma vez que atingiu mais de 180 países em todos os continentes (exceto Antártica). No Brasil, o número de infectados já passou de 2,7 milhões de casos e o de mortes supera os 94,1 mil (início de agosto). 

Mas, quais são as doenças que assolaram o mundo nos últimos 100 anos? Foram inúmeras enfermidades, e caso citasse todas, o texto ficaria demasiadamente extenso. No entanto, podemos citar, por exemplo, a gripe espanhola. Essa doença agiu entre 1918 e 1920 e infectou mais de 500 milhões de pessoas em todo o mundo, além de deixar mais de 50 milhões de mortos. Apesar do nome, segundo estudiosos, essa doença teve os primeiros casos registrados nos Estados Unidos. Na época, o curso da Primeira Guerra Mundial facilitou a disseminação da doença, principalmente pelo deslocamento de tropas nas frentes de batalha em todo o mundo.  

No Brasil, essa doença “desembarcou” em setembro de 1918, a bordo do navio inglês Demerara, que deixou doentes em Recife, Salvador e Rio de Janeiro. Na época, a Cidade Maravilhosa, então capital da República, e São Paulo, foram as cidades brasileiras mais afetadas. Foram registradas em torno de 35 mil mortes em nosso país, dentre as vítimas, o presidente eleito da República, Rodrigues Alves, que não chegou a tomar posse de seu segundo mandato. 

Ainda no século passado, tivemos o tifo, com mais de três milhões de mortos, e a malária, que causa problemas até nossos dias. Para a OMS, a malária é a pior doença tropical e parasitária da atualidade, ficando atrás em gravidade apenas da AIDS. Só em 2016 foram registrados 219 milhões de casos em todo o mundo, além de 435 mil mortes. 

Já no século XXI, a última e única pandemia antes da causada pelo coronavírus foi a de gripe A, popularmente conhecida como gripe suína, causada pelo vírus influenza H1N1. Essa doença surgiu em março de 2009 no México, espalhando-se rapidamente por todo o mundo. No Brasil, o estado mais afetado foi o Paraná, chegando a registrar 58,6% de todos os casos do Brasil no final de 2009. Em agosto de 2010, a OMS declarou o fim da pandemia que deixou pouco mais de 18 mil mortos em todo o mundo. 

Dessa forma, o que podemos esperar da Covid-19? Bom, sabemos que seu grau de disseminação é cerca de duas vezes maior que a HIN1, além de ter uma taxa de mortalidade maior (0,02% para a H1N1 e, no Brasil, de 3,5% para a Covid-19).  No campo econômico essa doença causou prejuízos enormes, principalmente no tocante ao desemprego. Só no Brasil, foram aniquilados mais de 7,8 milhões postos de trabalho desde o início da pandemia, segundo o IBGE. 

Além disso, segundo a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, essa pandemia causará uma recessão mundial pior que a de 2009. A China teve o pior trimestre dos últimos 30 anos, com a produção industrial caindo 13,5% no primeiro trimestre. Em abril, o Brasil praticamente zerou a projeção de crescimento do PIB para 2020, passando de 2,1% para 0,02%. Segundo o FMI, o Brasil passará por uma recessão de 9,1% em 2020. 

No entanto, se compararmos as pandemias do século XXI com as dos demais séculos, vemos que o número de perdas humanas é menor, o que é um fato positivo. Isso se deve principalmente ao avanço da ciência no decorrer da história, em suas mais diversas áreas. A ciência também pode auxiliar o campo econômico, possibilitando que o mundo retorne à sua rotina. Atualmente, isso pode ser percebido principalmente com a corrida pela vacina contra a Covid-19, além do interesse de governos estrangeiros em comprar todo o estoque dessa vacina que poderá ser produzido em 2020. 

E no cenário brasileiro, quem produz ciência? Segundo publicação de 2017 da Clarivate Analytics, 95% de toda a ciência produzida no Brasil vêm das universidades públicas. Apesar do corte de verbas e do sucateamento da ciência nacional, o Brasil foi o primeiro país do mundo a sequenciar o genoma do coronavírus. Esse feito foi realizado por pesquisadoras do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP), 48 horas após ser registrado o primeiro caso da doença no país, em fevereiro. Além disso, na nossa região, por exemplo, podemos citar um estudo desenvolvido pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) que está analisando se produtos naturais podem ser usados no combate ao coronavírus. Além dessas, há inúmeras outras iniciativas desenvolvidas por universidades públicas em todo o Brasil.

Dessa forma, vemos que a Ciência é imprescindível para o desenvolvimento de qualquer país, seja do ponto de vista tecnológico, econômico ou social. Isso é bem visível em épocas de pandemias, como a atual, onde vemos a corrida internacional pelo desenvolvimento de medicamentos e vacinas para combater o novo coronavírus. Portanto, a defesa e valorização das universidades públicas brasileiras, além da aplicação de verbas no desenvolvimento científico nacional, revela-se um investimento com retorno garantido, não um gasto supérfluo, como muitos gostam de fazer parecer. 


Anuncie com Jornal Noroeste
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