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Derrubar Estátuas ou Ídolos?


Por: Rogério Luís da Rocha Seixas
Data: 30/06/2020
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Reconheço que o título de minha exposição de ideias nesta oportunidade soa muito estranho. Peço então, um pouco de paciência para explicar o situar o tema. A reflexão de hoje se localiza nos acontecimentos que se desenrolaram a partir do assassinato de George Floyd nos EUA, que gerou protestos por quase todos os países. E destaque-se que na cidade de Bristol, Inglaterra, a estátua de um mercador de escravos, foi derrubada por pessoas que protestavam contra o racismo. Semana passada, o presidente Trump promulgou uma lei que visa proteger estátuas e monumentos contra ações como a ocorrida na Inglaterra. Ora! Expresso aqui minha ideia que estará aberta a críticas, pois aparentará ser ambígua. Inicialmente, atos como a derrubada da estátua em Bristol, não se trata de nenhuma novidade ou um mero ato de vandalismo. Há! Penso eu, um simbolismo forte: a não aceitação de uma homenagem ou monumento como a estátua, a valores aceitos em determinada época e que hoje não são mais aceitáveis. Afinal, a estátua de um mercador de escravos em local público se torna incompatível em um período em que se combate ao racismo ou qualquer tipo de intolerância. Em contrapartida, faço o seguinte questionamento: é de fato importante e eficiente para mudar conceitos e valores, a destruição de estátuas, como neste caso especificamente? Tentarei explicar-me! Uma estátua, assim como qualquer monumento, visa guardar a memória de uma época. Destruir a estátua de alguém ou algo que representa uma agressão ou causa incômodo para uma determinada época, pode apagar a memória exatamente do que se deseja combater ou repudiar. Corre-se o risco de se cair no esquecimento e a estátua na condição de um monumento ao que se busca negar, pode servir como resgate e ensinamento para as gerações vindouras, para que não cometam os mesmos erros e que busquem mudar os valores e costumes, visando a construção de um período social e relacional muito mais rico e melhor. Desta forma, não basta simplesmente derrubar uma estátua ou destruir um monumento que nos causa repúdio, embora tal ação simbolize que não concordamos mais com o que ele representou. Deve-se utilizá-las, no caso das estátuas, como objetos de memória e mudança de mentalidade. Muito bem, mas e os ídolos que menciono no título? Uma estátua, representa uma escultura. Um monumento a um homem ou mulher. A um animal e obviamente a algum tipo de divindade, mas penso que no sentido de memória ou momento histórico. Por outro lado, quando faço alusão aos ídolos, quero me referir ao cultivo, adoração e apego excessivo a alguém ou como no caso aqui específico da minha reflexão com vocês, a adoção e manutenção excessiva de ideias e valores que retratam o mundo de modo a não aceitar a diferença, fortalecendo a intolerância, exaltando a violência contra a diversidade,  atacando o outro por se apegar a idolatria da supremacia de cor e condição econômica. O apego idolátrico a costumes e valores que nos tornem cegos com relação a discriminação e ao preconceito, sendo coniventes e participantes de ações que neguem e até destruam o diferente, por questões étnicas, religiosas e políticas. Assim sendo, encerrando esta exposição, penso que mais importante do que derrubar estátuas ou monumentos que nos causem incômodo, devemos destruir estes ídolos que cultivamos dentro de nós. Algo que convenhamos, apresenta-se enquanto atitude política e ética, uma tarefa muita mais complicada, contudo, extremamente necessária.  

Rogério Luís da Rocha Seixas

Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com


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