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“A revolução dos bichos” – comentários ao livro e à película


Por: Itamar S. Sá
Data: 03/03/2022
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*Esse texto foi escrito inicialmente para um trabalho avaliativo da disciplina de Direito Constitucional I no curso de Direito da UNESPAR-Paranavaí. Texto com adaptações.

 

            A película “A Revolução dos Bichos” (1999) é baseada na obra homônima do escritor britânico George Orwell, conforme a tradução brasileira (O título original é “Animal Farm”, ou seja, “Fazenda Animal”, em tradução literal; enquanto em Portugal é “O Triunfo dos Porcos”). Apesar de algumas diferenças, a película, dirigida pelo britânico John Stephenson, possui um enredo fiel à obra, tendo mantido os principais aspectos tratados por Orwell em seu livro. Merece destaque a presença de uma narradora na película, Jessie, uma cachorra, que situa o telespectador durante a trama.

Tendo sido publicada pela primeira vez em 1945, o livro conta a história de um grupo de animais que, cansados da opressão que sofriam na Fazenda Manor, posse do fazendeiro Sr. Jones, se rebelam e tomam o poder após serem instigados pelo Velho Major, um porco ancião.  Durante o discurso, Velho Major é atingido por um disparo que parte da espingarda do Sr. Jones, que extremamente bêbado, sai para averiguar a movimentação no estábulo.

O assassinato do Velho Major foi o estopim para que os animais se rebelassem e tomassem a fazenda, a rebatizando posteriormente de “Fazenda Animal”, o que dá nome à obra em inglês (Animal Farm) e em espanhol (La Granja de los Animales). Após tomar o poder, a granja começa a ser gerenciada pelos porcos, sendo os três principais Squealer, Napoleão e Bola de Neve (A depender da versão da obra, Squealer pode ser chamado de Garganta, bem como Bola de Neve de Snowball. Na versão de cinema os personagens se chamam Squealer e Snowball).

            Após todos esses acontecimentos, os animais tentam se reorganizar e montar seu “Estado” democrático, sendo guiados pelos princípios de uma corrente político-filosófica: o “animalismo”. Os mandamentos do animalismo, instituídos pelo Velho Major juntamente com uma canção, que se tornaria o hino dos animais, são: 1) qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimiga; 2) qualquer coisa que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo; 3) nenhum animal usará roupas; 4) nenhum animal dormirá em uma cama; 4) nenhum animal beberá álcool; 5) nenhum animal matará outro animal; e 7) todos os animais são iguais.

            Ainda durante o período de adaptação ao novo regime, os animais são atacados pelos humanos a fim de retomar a fazenda, tendo como chefe do ataque o Sr. Pilkington. Mesmo desprezando o Sr. Jones e não se importando com sua ruína, Pilkington e os outros temiam que a revolução se espalhasse por outras fazendas, sendo assim, acreditavam que a melhor maneira era sufocar a rebelião e usá-los como exemplo. Durante o ataque, Snowball comanda os animais e expele os invasores, enquanto Napoleão e Squealer se escondem esperando o fim dos combates. Após expulsarem os inimigos, os animais se sentem mais unidos e dispostos a continuar com a revolução, surgindo um sentimento de “patriotismo”.

            Observando a situação, Napoleão e Squealer planejam uma contrarrevolução, fazendo alguns movimentos antes de aplicar um golpe, como o recrutamento dos cães, incluindo filhotes, para montarem uma Guarda Animal, fiel a eles. Após algum tempo, Napoleão e Squealer aplicam um “golpe” (inicialmente Napoleão foi declarado líder por unanimidade), acusando Snowball de traição e o forçando a ir para o exílio, sob ameaça de morte. Há rumores que a história foi baseada na revolução russa, sendo o Velho Major uma sátira à Karl Marx, enquanto Napoleão e Snowball correspondem a Stalin e Trotsky, respectivamente. Squealer, o porco que atuava como porta-voz de Napoleão, seria uma representação da propaganda de governo comum nas ditaduras.

            Após o início do governo de Napoleão, a comunidade que se estabeleceu na “Fazenda Animal” passa a ser regida com mão de ferro. Com o decorrer do tempo alguns animais se rebelam, sendo duramente reprimidos, inclusive com a morte. Para justificar a vida boa que os porcos levavam em detrimento dos demais animais, bem como as atrocidades cometidas, Squealer, a mando de Napoleão, começa a alterar os mandamentos do animalismo durante a madrugada. Mandamentos como “nenhum animal matará outro animal” são modificados para “nenhum animal matará outro animal SEM MOTIVOS”; “nenhum animal dormirá em uma cama” torna-se “nenhum animal dormirá em uma cama COM LENÇÓIS”; bem como “todos os animais são iguais” é modificado para “todos os animais são iguais, MAS ALGUNS SÃO MAIS IGUAIS QUE OUTROS”.

            Além disso, os porcos atribuem muitos fracassos de sua gestão à sabotagem por parte de Snowball, o porco exilado, que, segundo Squealer e Napoleão, adentrava de madrugada na fazenda para cometer crimes. Todos esses acontecimentos lembram o que acontece em ditaduras, inclusive nos dias atuais, em que se cria um inimigo externo, sendo este responsável por todos os males que, na verdade, em maior parte, são resultados do autoritarismo e da má administração.

Com o tempo os porcos no comando começam a comercializar com os humanos, antes inimigos e agora aliados, sob a justificativa de ser necessário ao progresso. O comércio é visivelmente desfavorável aos animais, uma vez que os porcos gastam todos os recursos em mordomias e bebidas, enquanto os demais animais (a população) definha de fome. Os porcos se mantém no poder por meio da força, intimidando os demais animais com a Guarda Animal, composta de cães fiéis e ferozes.

Na película, sem esperanças e forças suficientes para derrubarem os porcos, alguns animais, como a cachorra Jessie (narradora), fogem da Fazenda Animal, que agora voltou a se chamar Fazenda Manor, sob ordens de Napoleão, que também aboliu o hino dos animais, um dos símbolos do animalismo. A abolição do hino da revolução é justificada pelos porcos, os quais dizem que suas palavras não condizem mais com a realidade, visto que os animais já alcançaram a “liberdade” pregada pela canção.

Depois de algum tempo, resultado da má administração dos porcos, a fazenda entra em decadência, restando apenas ruínas. Jessie, a cachorra, retorna à fazenda com esperança de dias melhores para as próximas gerações de animais e lamenta que a tão sonhada revolução dos bichos, suscitada pelo Velho Major, tenha terminado dessa forma.

Tanto na película quanto no livro, o leitor/telespectador tem a oportunidade de aprender muito sobre política e poder no decorrer do enredo. Ainda, essa história permite o paralelo com inúmeras ditaduras e revoluções ao longo do mundo, como a russa e a iraniana, possibilitando inúmeras reflexões. Trata-se de uma obra indispensável para quem tem interesse em Geografia, Direito, Ciência Política, Relações Internacionais e outras ciências sociais. 

REFERÊNCIAS 

A REVOLUÇÃO DOS BICHOS. Direção de John Stephenson. Produção de Greg Smith e Robert Halmi. Estados Unidos/Reino Unido. Lançamento: 1999. 91 minutos. 

ORWELL, George. “A Revolução dos Bichos”. São Paulo: Círculo do Livro, 1945.

O porco Napoleão e o Sr. Pilkington em cena da película de 1999

 

Itamar S. Sá


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