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Passar no vestibular: a que custo?


Por: Simony Ornellas Thomazini
Data: 29/11/2019
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A história a ser contada a seguir é verídica e foi reportagem de alguns jornais importantes do país. Trago essa pauta para a coluna de hoje.

Guilherme Nobre é o rapaz da foto, 19 anos, morador de Santos (SP) realizou o sonho de passar no vestibular em medicina da USP, uma das mais requisitadas universidades do país. Mas, o caminho para chegar até esse momento não foi nada fácil.

O desejo em fazer medicina começou quando ele fazia visitas constantes ao pai no hospital, internado com hidrocefalia.

Em 2016, ele fez faxina para poder pagar o cursinho e, nas horas vagas, estudava dentro do banheiro de um posto de combustíveis na cidade onde nasceu. Guilherme dizia que no terceiro ano do ensino médio já estava focado naquilo que queria, iniciando, assim, o cursinho.

Ele estudava no colégio de manhã, fazia técnico a tarde e o cursinho a noite. Sua mãe era frentista de um posto de gasolina. Ele saia do colégio, tomava um banho e ia ao banheiro do posto estudar por várias horas. Passou quase metade do ano estudando, porém, ainda não havia conseguido nota o suficiente para passar no vestibular.

Guilherme não conseguiu concluir o curso pré-vestibular, pois, além de não possuir condições financeiras para pagá-lo, ele precisava focar em concluir seus estudos, já que estava no último ano do colégio e do técnico.

Em 2017 ele conheceu uma pessoa que foi muito importante na realização de seu sonho, uma professora. Guilherme gostava muito da forma como ministrava a aula no curso que dava, mas não tinha dinheiro para pagar. Foi então que ela deu uma bolsa de estudos a ele, mas em troca, ele deveria organizar as coisas, limpar as salas, passar pano, trocar o lixo e lavar os banheiros. Como era o seu sonho passar no vestibular em medicina, e essa foi a única maneira de tornar isso possível, essas coisas se tornaram simples para ele.

Tentou o Enem ainda em 2017, e novamente a decepção: não conseguiu passar. Mas, continuou estudando para tentar no ano seguinte.

Enquanto fazia o curso, Guilherme só pensava que o sonho em ser médico deveria ser maior do que todas as dificuldades encontradas, e elas foram muitas, em toda a sua trajetória.

Em 2018, sua avó aos 84 anos teve um AVC ficando desacordada por seis meses. Guilherme a acompanhou durante todo esse período ao hospital. Ele levava livros e ficava estudando durante toda a noite.

Três dias antes de fazer o Enem, sua avó faleceu. Neste dia, conta que foi fazer a prova pensando que ela estaria olhando por ele. Depois disso, aguardou o resultado das notas. No fim de janeiro de 2019, após se inscrever pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), ele finalmente soube que havia passado no vestibular de medicina na Universidade Federal do Paraná (UFPR), avaliada entre as 10 melhores instituições do país.

Guilherme relata que havia ficado feliz com a notícia, mas dias depois após se inscrever na USP de Ribeirão Preto, e, acompanhar a lista diariamente, viu seu nome em quarto lugar na lista dos aprovados em medicina.

Ele nunca imaginou que poderia ter sido aceito pela USP, mas depois se deu conta que havia estudado para passar numa USP. Seus pais ficaram felizes com a sua conquista, assim como sua namorada que também havia passado em terceiro lugar para engenharia de alimentos.  E ele só pode pensar no quão emocionante foi o caminho para chegar até essa aprovação e o quanto poderá fazer a diferença na vida das pessoas.

Realizar uma conquista dessa magnitude para um jovem é motivo de muito orgulho. É um momento de glória, mas o caminho percorrido até isso é muita vezes, regado a cobranças, dor, lágrimas, renúncias e muito sofrimento.

Pais, professores e instituições cobram a todo momento aquele jovem que DEVE passar no vestibular, que precisa se esforçar porque em alguns casos “só estuda” tendo a obrigação de conseguir uma vaga na universidade. Mas, é essa escolha que definirá uma boa parte de seu futuro e, portanto, requer vários cuidados.

A história de Guilherme foi de luta e persistência, não há ali indícios de cobranças, mas poderia ter sido, já que isso ocorre muito.

Passar no vestibular e poder ingressar numa universidade é o desejo de muitos jovens. Mas, isso só é possível quando vários fatores contribuem para tal feito, inclusive emocionais. Não é só estudar! Mas é também preciso apoio, afeto, cuidados.  Guilherme enfrentou várias dificuldades, mas havia apoio de amigos, de sua namorada, da professora e de seus pais. Só assim pode-se passar no vestibular, ingressar numa faculdade, e começar a construir um futuro sem pagar um preço tão alto por isso. 

 

Simony Ornellas Thomazini


Anuncie com Jornal Noroeste
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