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Como os homens amam?


Por: Simony Ornellas Thomazini
Data: 05/07/2019
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Não é possível abordar esse tema sem antes expor a seguinte questão: o que é ser homem hoje? É ser machão? É ser heterossexual? E ainda, por que um homossexual não seria um homem? Essas questões nos remetem ao fato de que há uma confusão, evidenciando, portanto, que a vida contemporânea nos traz uma ruptura aos antigos padrões. 

O homem e o amor

O homem há algum tempo atrás, era aquele que estava seguro na relação amorosa com a mulher. Ele poderia saber o que sentia, e se via como possuidor do que desejava a (sua) mulher, isto é, sua própria masculinidade.

Ser homem aqui significava ser o portador daquilo que satisfaz o desejo de uma mulher, ou seja, o que pode transmitir uma orientação e apaziguamento a aflição feminina. Nesse sentido, ser homem é possuir a condição necessária para prover. E com isso, estar no poder. De modo geral, podemos dizer que, na história humana, o poder sempre foi “coisa de macho”.

 Como amava o homem cujo pai era severo, e sua vontade era muitas vezes expressa num único olhar enfurecido? Esse homem não foi “ensinado” para amar, mas, sim, para ser amado. E amar fragiliza, enfraquece, gera dependências em relação ao objeto amado. 

Diante desse contexto, o amor diz respeito mais à mulher. Por isso que esse Homem com maiúscula perde as suas forças enfraquecendo-se por amor, podendo, diante disso, ser taxado de “mulherzinha”.

Por outro lado, o que vemos muito atualmente, é um ideal de homem encarnado, muitas vezes, num Don Juan, um “pegador”, aquele homem sedutor que arrebata toda e qualquer mulher.

Essa concepção de homem vai de encontro com a queixa de muitas mulheres quando dizem que os homens hoje não se apegam, não se apaixonam, querendo apenas sexo, sendo assim, fogem do amor, do compromisso, etc.

 O sociólogo Zygmunt Bauman nos convoca a pensar sobre esse ponto quando em “Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos” diz a respeito da superficialidade dos amores na vida contemporânea, e a liquidez dos amores que se desfazem antes mesmo de começarem.

Todavia, mesmo diante de todo o contexto apresentado, nos tempos atuais, esse homem, livre e desapegado, passou a amar! No entanto, é um terreno totalmente desconhecido para ele, dominado apenas pelas mulheres. 

Assim, quando um homem perde a mulher que ama, ou se separa dela, é como se uma parte dele mesmo, fosse cortada fora.

É aqui que a clínica psicanalítica evidencia hoje, homens surpresos e traumatizados com aquilo que se mostra desconhecido e totalmente inesperado para eles: o fato de que a mulher que ele ama possa, em determinado momento, viver muito bem sem ele. A separação para um homem é sempre muito mais pesarosa e difícil do que para uma mulher.

Portanto, podemos dizer que a superação de um amor perdido também passou a ser problema de homem. E com isso, talvez, pode-se dizer aquelas mulheres que se queixam de que o homem não se envolve, pelo menos em alguns casos, ao fato deles não terem superado um relacionamento traumático anterior, ou seja, um amor que deu errado.

Segundo a psicanálise, o seu inconsciente está sob o efeito do que Freud chamou de “fixação da libido”. Nesse sentido, não estariam livres para vivenciar um novo amor, passando, assim, a desfrutarem apenas do sexo.

Como amar sem perder a virilidade?

O desafio hoje é de que o homem possa amar e ao mesmo tempo preservar a sua virilidade. Porque amar implica estar numa posição feminina, portanto, o amor feminiza, e como ser viril e feminino ao mesmo tempo?

 Isso só será possível quando o homem não buscar na mulher aquilo que falta a ele. Quando ele se der conta de que essa mulher não é parte de si mesmo, mas alguém que é outra, e, portanto, diferente dele.

 Dessa forma, o homem necessitaria fazer o luto de encontrar em sua parceira a sua própria falta. E sabemos que o luto é um processo doloroso, triste, mas leva ao desapego. Só assim para que o objeto amado não se torne insubstituível e ele possa, enfim, compreender, que um novo encontro amoroso pode estar sempre ao seu alcance.

Simony Ornellas Thomazini


Anuncie com Jornal Noroeste
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