Um Convite para se examinar a vida
O título pensado para esta nova exposição de ideias, traz já inserida uma questão para reflexão e debate: O que é a vida? Obviamente, a gama de definições e sentidos não é pequena, apresentando-se enquanto um tema tratado por diferentes campos de conhecimento. Temos, para começar nossas ilustrações, a definição que nos remete ao caráter puramente biológico de vida, que nos refere à estrutura dos corpos, suas funções vitais, à longevidade e, inclusive, nossa relação com outras formas de vida num sentido geral. temos a noção de vida, como uma dádiva ou criação de Deus que nos projeta o sopro da vid. Percebemos ainda, a vida em sua propriedade inviolável, isto é, uma noção de sua valorização em si mesma. Podemos dizer em sua sacralidade. Destaque-se também o sentido dito hedonista, ou em outros termos, a vida deve ser vivida da forma que nos aprouver, aliando assim um sentido de liberdade e satisfação de nossos prazeres. Enfim, segundo o prêmio Nobel de 1965, François Jacob, esta questão é “particularmente difícil, senão impossível, pois cada um tem sua ideia intuitiva do que é a vida” (Jacob, 1985). Contudo, meu convite em refletir sobre a vida, passa por outo viés que desenvolvo inicialmente, utilizando-me da citação de um ilustre filósofo da antiguidade grega: “Uma vida não examinada não vale a pena ser vivida” (Platão, 2015). Acoplada a esta citação, apresento outra deste mesmo pensador: “Conhece-te a ti mesmo”. Pois bem, são citações do filósofo grego Sócrates. Este filósofo, embora não tenha deixado nada escrito, teve em seu discípulo e também pensador grego conhecido como Platão, o imortalizador do seu pensamento em diversos diálogos. Eu convidei Sócrates para participar desta troca de ideias pelo seguinte motivo: para nos convidar a exercitarmos o refletir sobre nós mesmos. Exercício perpetuado a partir de um olhar crítico sobre concepções e valores que nos referenciam em nossas vidas e no mundo. A vida que Sócrates destaca passa pelo sentido de examinar como nos conduzimos em nossa existência com nós mesmos e também com os outros. Há um convite por parte do pensador, que eu aproveito nesta exposição de ideias que compartilho, para que nos ocupemos mais de nós mesmos e menos das coisas.
Pode-se afirmar que se configura como um diálogo e exame interno, questionando o modo como vivemos e temos vivido. Indubitavelmente, alguém poderá objetar: com que propósito deveríamos nos ocupar com nós mesmos? De acordo com nosso convidado de reflexão, para se ter acesso à verdade? Advirta-se que não se trata de uma verdade absoluta ou uma verdade científica! Não se trata de uma verdade pronta, mas sim que deve ser desvelada dentro de nós e que possa servir de meio para refletirmos e revermos nossas concepções sobre a vida que levamos e o valor que a ela determinamos! O cuidar de si e o conhece-te a ti mesmo, indicados por Sócrates, buscam nos tornar mais autônomos em nossas experiências de vida e capazes de nos modificarmos interiormente para lidarmos melhor com as questões também externas. E não para nos isolarmos em nós mesmos! Conhecer a mim mesmo, visando mudar minha relação para comigo mesmo, para com os outros e para o com mundo. Também não devemos confundir o examinar a nossa vida com uma noção meramente psicológica! Trata-se de um exercício tanto de reflexão quanto de ação! Uma amostra da essência da Filosofia viva e ativa, visando um modo de viver mais equilibrado e feliz! Refletir para mudar condutas e ideias, principalmente diante de experiências que nos colocam diante da nossa condição de finitude e fragilidade, como tem se sucedido com a pandemia da Covid-19! O convite para examinar a nossa vida, principalmente experienciando momentos como a desta pandemia, não se resume a mera teoria, mas sim a de uma prática acompanhada de reflexão sobre nossas concepções de vida e, simultaneamente, refletindo acerca de nossas atitudes e mais essencialmente, como modificá-los, objetivando construir um modo de existência mais criativo, feliz e equilibrado. Encaremos a partir deste ponto de vista, a vida como se fosse uma obra de arte em que vamos nos aperfeiçoando no decorrer de nossa existência. Creio que o mais importante a ser apreendido nesta exposição de ideias com nosso convidado Sócrates é que o desejo de viver, nos impulsione à criatividade e ao empenho, para a transformação indispensável que tanto necessitamos, para vivermos melhor, principalmente nos próximos tempos que se apresentam.
1. François Jacob. “Lógica da Vida”. Ed. Dom Quixote, 1985.
2. Platão. “Apologia a Sócrates”. Edipro, 2015.
Rogério Luís da Rocha Seixas
Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com